Descoberta de microplásticos em pinguins na Antártida: será que lhes farão mal?

 Descoberta de microplásticos em pinguins na Antártida: será que lhes farão mal?

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A poluição por plástico é considerada um dos assuntos ambientais mais preocupantes atualmente no planeta. À medida que o plástico se vai fragmentando e ficando cada vez mais pequeno, esses pequenos fragmentos têm ocupado virtualmente todas as regiões oceânicas do nosso planeta. Os microplásticos (partículas de plástico com menos de cinco milímetros de tamanho) já chegaram às partes mais remotas do nosso planeta, incluindo a Antártida. 

(Direitos reservados)

Já sabíamos que os microplásticos foram encontrados na água e nos sedimentos do Oceano Antártico, mas não se sabia se já teriam entrado na cadeia alimentar dos animais que lá vivem. Sendo uma parte do planeta considerada um exemplo mundial de governança, sob a jurisdição do Tratado da Antártida que devota esta região para a Ciência e Paz, cooperação internacional e minimização do impacto ambiental, torna-se importante saber se os microplásticos já estarão a afetar os animais e o que se pode fazer para resolver este problema.

Pinguim-gentoo (Pygoscelis papua). (Créditos: Wikipédia)

Um estudo científico liderado por cientistas portugueses – a investigadora Filipa Bessa e colegas do Centro de Ciências do Mar e Ambiente (MARE) da Universidade de Coimbra – permitiu encontrar, pela primeira vez, a presença de microplásticos em pinguins-gentoo (Pygoscelis papua). Cerca de 20% dos pinguins apresentava microplásticos no seu organismo, desde fibras a fragmentos de vários tamanhos e composição, cuja proveniência poderá ser a lavagem de roupas e de redes de pesca.  

(https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2021.147698 0048-9697/© 2021 Elsevier B.V. All rights reserved)

Um estudo posterior, liderado por Joana Fragão (do mesmo centro de investigação científica, desenvolvimento tecnológico e inovação), encontrou microplásticos em mais duas espécies de pinguins – pinguim-de-adélia (Pygoscelis adeliae) e pinguim-de-barbicha (Pygoscelis antarcticus) – e confirmou que os microplásticos estão distribuídos em várias partes da Península Antártica e presentes nos pinguins, desde 2006. Os valores encontrados são mais baixos do que noutras partes do Mundo, mas é necessário haver políticas do uso de poluição por plásticos na Antártida.

Localizacão da Península Antártica. (Fonte: ResearchGate – Download Scientific Diagram)

Neste contexto, nas Reuniões Anuais do Tratado da Antártida (ACTM) 2022, em Berlim (de 23 de maio a 2 de junho), foi apresentado um artigo (por investigadores de Portugal e do Reino Unido) sobre as evidências científicas nestes trabalhos, para apoiar o desenvolvimento de recomendações, a fim de que os países que operam na Antártida reduzam o uso de microplásticos nesta região do planeta. Foi igualmente encorajado o desenvolvimento de mais estudos para avaliar os efeitos de microplásticos em pinguins e em outros animais da Antártida, bem como apoiar uma avaliação científica dos níveis, origens e destino de microplásticos na Antártida.

Pinguim-de-barbicha (Créditos: Wikipédia)

Só muito recentemente estamos a compreender a escala deste problema ambiental no meio marinho. Nesta semana, durante a 2.a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, coorganizada pelos governos de Portugal e do Quénia e a decorrer até amanhã em Lisboa, tem sido evidenciado o problema da poluição, assim como a necessidade urgente de encontrar e de implementar soluções para a resolver. As soluções incluem reduzir a produção de plásticos, desenvolver métodos na remoção de plásticos, produzir alternativas ao plástico, estimular investigação científica para conhecer a origem, a distribuição, os impactos e o destino dos plásticos no ambiente, a par da promoção de acções e de políticas no contexto da denominada Economia Azul ou de uma economia do mar sustentável (envolvendo todas as partes interessadas). Além disso, é preciso ajudar na formação das gerações mais novas, fornecer as informações científicas corretas para a produção das melhores leis e também fomentar mais acordos internacionais de um modo cooperativo, agindo localmente.

(https://eurocid.mne.gov.pt/)

Existe um otimismo no ar em que a grande maioria dos governos, cientistas, empresas e demais participantes compreendem a necessidade de agir urgentemente para combater este problema, entre muitos outros assuntos relevantes e relacionados com os oceanos, a exemplo das alterações climáticas, da pesca excessiva não regulada e da acidificação das águas oceânicas.

30/06/2022

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José Xavier

Biólogo marinho, professor e investigador do Centro de Ciências do Mar e Ambiente (MARE) da Universidade de Coimbra.

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