Deve-se ou não abrir as janelas de casa ou do escritório quando chove?

 Deve-se ou não abrir as janelas de casa ou do escritório quando chove?

Créditos fotográficos: Pexels (Pixabay)

Provavelmente, um engenheiro civil aconselhará a fechar as portas e as janelas de casa e a deixar tudo tapado quando chove, pois, julga prejudicial à preservação das estruturas a entrada da humidade. Um engenheiro do ambiente recomendará a abertura da janela, pelo menos, durante alguns minutos, atendendo ao efeito purificador do ambiente pela água da chuva. Um virologista ficará satisfeito, se as salas forem arejadas, não vão os diabos dos vírus tecer alguma trama ao ocupante. E um pneumologista acautelará sobre o perigo da corrente de ar.

Para optar pela melhor recomendação, talvez seja vantajoso refletir sobre o que é a chuva, como se forma, que tipos de chuva nos visitam e quais as suas vantagens e desvantagens.    

(tempo.pt – juponline.pt)

Achuva é um fenómeno meteorológico natural resultante do processo de condensação da água presente na atmosfera em forma de vapor. Após a transformação do vapor em gotículas, estas formam a nuvem, ganham peso e precipitam-se no solo, gerando a chuva, ou seja, a queda de água. Em condições especiais, em vez da queda de água em estado líquido, a precipitação pode ocorrer em formato sólido, como granizo e neve. Porém, nem toda a chuva chega a atingir o solo, porque, dependendo de algumas condições específicas – entre elas, o calor – a chuva pode evaporar antes de atingir a superfície.

O processo de formação das chuvas começa com o aquecimento da água, que se encontra no solo, nos lagos, nas lagoas, nas barragens, nos rios e noutras linhas de água, nos mares e nos oceanos.

Esquema de como se forma a chuva. (Fonte: Info Escola)

Através do calor solar, a água aquece e, posteriormente, evapora-se, transformando-se em vapor de água. Em seguida, o vapor de água une-se ao ar, que é mais leve, e lentamente sobe para a atmosfera. A partir disto, começam a formar-se as nuvens com estes vapores que, ao atingirem as massas de ar frias, iniciam uma etapa de condensação do vapor em água. E assim, pela lei da gravidade, as gotículas de água – agora pesadas – caem, formando a chuva.

A quantidade e a periodicidade de chuvas numa região dependem de inúmeros fatores, entre eles a sua temperatura média, a estação do ano, a quantidade de árvores existentes e muitas outras circunstâncias.

Os níveis de precipitação da chuva determinam fenómenos como a humidade e a aridez da região. Há vários tipos de chuva, tanto benéficos como nocivos. As precipitações classificam-se conforme o seu formato e as condições da sua formação.

Tipos de chuvas. (obshistoricogeo.blogspot.com)

As chuvas estacionais, conhecidas como chuvas de relevo ou de serra, caraterizam-se pela formação pluviométrica, quando ventos húmidos e altos se chocam com barreiras naturais como montanhas e encostas, por exemplo. Quem não se lembra das montanhas concordantes?

As chuvas frontais são as que ocorrem no encontro de massas de ar com temperaturas diferentes. Resultam do choque entre massas frias e secas de ar com as suas versões opostas, as massas de ar quente. Não costumando ser fortes, duram bastante tempo e atingem grande extensão territorial.

As chuvas conectivas, ou “chuvas de verão”, são as “trombas-d’água” que chegam rápidas e fortes, podendo devastar, arrasar e alagar, mas que não duram muito tempo.

Os temporais, tormentas ou aguaceiros e torós (no Brasil), caraterizados por forte precipitação de água, são acompanhados de ventanias, trovões e raios. A formação destes fenómenos lindos e perigosos torna-se possível quando o processo de condensação ocorre juntamente com a formação de cristais de gelo. Todavia, para que se forme um temporal, têm de reunir-se várias condições climáticas. Contam-se, entre outras, as correntes de ar quente e frio, alternando-se, as nuvens do tipo cumulonimbus (nuvens escuras formadas por grandes gotas de água e granizo, podendo conter cristais de gelo no topo), a humidade e a temperatura do ar.

Processo de formação das chuvas ácidas. (www.youtube.com/@professorgeo)

As chuvas ácidas, famosas em televisão e em filmes de catástrofes, são reais e fazem mal à saúde. No entanto, não são ácidas, ao invés do que o adjetivo sugere. Estas precipitações ocorrem, com muita frequência, em centros urbanos e ocorrem, excecionalmente, em zonas rurais.

Este tipo de chuva recebe esta denominação por causa da sua formação e dos seus malefícios. O acúmulo de poluente, proveniente principalmente de gases produzidos por carros e indústrias, é lançado na atmosfera e, assim, se formam as “nuvens ácidas”. Quando a água de tais nuvens se precipita, a chuva causa muitos prejuízos. Danifica as plantas, contamina o solo, prejudica as construções e, se ingerida, pode fazer mal à saúde. Infelizmente, este tipo de ocorrência é cada vez mais frequente e é uma tendência em locais de grande poluição.

Obviamente, as pedras de granizo, sobretudo se forem grandes, causam prejuízos nas pessoas, nos animais, nas casas, nas culturas, em arruamentos e até em equipamentos como automóveis. 

(© RTP)

É, pois, a chuva, que percorre um ciclo diversificado de formações, um fenómeno meteorológico essencial para a vida e para o clima. E, fora dos casos negativos apontados, é vital para a agricultura, para as plantas e para os animais. É também importante para regular o clima no planeta. É tão importante que, até em lugares onde raramente ocorre, como em desertos, o pouco que cai é o suficiente para alimentar todos os tipos de vida que se adaptaram a esses lugares.

(© Divulgação/MAPA – opresenterural.com.br)

É indiscutível a importância da chuva no ciclo hidrológico e na capacidade de alterar a sensação térmica do ambiente. Os seus benefícios estendem-se à rega de biomas ambientais, como florestas e serrados, além de favorecerem o desenvolvimento de plantas.

Por outro lado, os rios, os lagos e as lagoas, os reservatórios, as nascentes, os lençóis freáticos, os mares e os oceanosdependem das chuvas para regular cheias, períodos de secas e alimentação de outros sistemas interdependentes.

Na Natureza, além da sobrevivência, o desenvolvimento de muitas plantas depende do ciclo de chuvas e da humidade. A agricultura depende totalmente do ciclo das águas para se desenvolver. As plantações podem ser um sucesso ou um fracasso, conforme a quantidade de água disponível. E, em algumas regiões, a água retida das chuvas é a única fonte para saciar a plantação.

As cidades também beneficiam do processo de formação de nuvens e de chuvas. A água que cai do céu diminui a temperatura e traz humidade para o ar, além de limpar a poluição.

(www.tempo.pt)

Todavia, as chuvas não causam só coisas boas. Se ocorrem em excesso, têm consequências. Podem alagar cidades, danificar plantações e trazer outros transtornos sérios. A agricultura é especialmente sensível ao excesso de água. Por isso, acompanhar a “tendência das nuvens” é uma preocupação cada vez maior e cercada de tecnologias no quotidiano por parte de quem vive da terra, tamanha é a importância e a influência da chuva na agricultura.

A ocorrência de chuvas em demasia pode ter origem nas mudanças climáticas naturais. Entretanto, os cientistas apontam que as ações humanas também provocam este tipo de fenómeno.

O movimento de vaivém das águas, que se evaporam e formam chuvas, é conhecido como “ciclo infinito das águas”, que é formado por este movimento contínuo de evaporação, condensação e precipitação, que se renova diariamente.

Apesar do ciclo, devem proteger-se as nascentes, os rios e outras fontes deste processo para que a qualidade, a intensidade e a localidade destas precipitações nunca piore ou entre em colapso.

Para muitas pessoas, as chuvas são algo natural e banal. Entretanto, como vimos, tanto o ser humano como o planeta e os demais seres vivos dependem da chuva para viverem.

***

Normalmente, é habitual fechar as janelas logo que chove. É um erro de muitas pessoas, que bem podiam aproveitar a chuva para abrir as janelas, pelo menos, durante alguns minutos.

A chuva tem o efeito de oxigenar e, portanto, purificar o ar da casa ou do local de trabalho. Nada funciona melhor do que a chuva para limpar os ambientes poluídos das cidades. As gotas de chuva colidem e removem as partículas poluentes, fazendo com que as nuvens de poluição desapareçam. Graças a isso, podemos respirar um ar muito melhor quando chove e depois da chuva.

Outro efeito benéfico da chuva no nosso ambiente interior é o seu aroma agradável. Todos nós sentimos o cheiro, pouco antes de uma tempestade cair. É um cheiro caraterístico. E até dizemos: “Vai chover.” Este cheiro vem do ozono. Esta molécula está sempre presente na atmosfera, mas a sua concentração em áreas baixas aumenta em dias de tempestade. Com efeito, os raios favorecem a sua formação. A chuva, elemento purificador da água, limpa e leva todo o mal.

No século XX, os australianos Isabel Joy Bear e Richard G. Thomas batizaram o cheiro sugestivo de chuva como “essência da rocha” ou “petrichor” (dos termos gregos pétros, que significa pedra, e ikhôr, que significa fluido etéreo presente nas veias dos deuses, segundo a mitologia grega).

Créditos fotográficos: Nathalia Segato (Unsplash)

Foi demonstrado que, após algumas horas de chuva, o ambiente deixa de estar tão carregado e a temperatura é regulada (até no inverno). Este ambiente carregado é o que, frequentemente, causa dores de cabeça, exaustão e desconforto em pessoas eletrossensíveis. Porém, após a tempestade, a bonança deixa as pessoas parecerem mais animadas e mais relaxadas.

O cheiro da chuva é uma mistura de múltiplas essências que surgem da Terra e da atmosfera. É muito agradável e faz-nos parar, pelo menos, por um momento, respirar fundo e sentir que fazemos parte de um planeta que está bem vivo.

Por isso, quando chover, abram-se as janelas, deixe-se fluir o oxigénio; que saiam as velhas energias e que entrem as novas da chuva.

22/12/2022

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Louro Carvalho

É natural de Pendilhe, no concelho de Vila Nova de Paiva, e vive em Santa Maria da Feira. Estudou no Seminário de Resende, no Seminário Maior de Lamego e na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi pároco, durante mais de 21 anos, em várias freguesias do concelho de Sernancelhe e foi professor de Português em diversas escolas, tendo terminado a carreira docente na Escola Secundária de Santa Maria da Feira.

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