Dia Mundial da Terra 2023: “Investir no planeta”
Celebrou-se, a 22 de abril, em mais de 190 países, o Dia Mundial da Terra 2023 (Earth Day), com milhões de pessoas a assumirem o “compromisso com a proteção e com a necessidade de preservar os recursos naturais, o ambiente e a sustentabilidade da Terra”. Com efeito, é preciso reconhecer a importância do planeta e valorizar a importância e a necessidade de preservar os recursos naturais do Mundo.
O dia foi, assim, dedicado a alertar para a necessidade de promover um desenvolvimento sustentável, enquanto fator fundamental para a qualidade de vida das futuras gerações.
“Investir no planeta”foi o tema escolhido para as comemorações de 2023, a fim de alertar para a importância de se mudarem as estratégias políticas e empresariais, com vista à tomada de medidas que minimizem os problemas relacionados com o clima.
Investir no nosso planeta implica relevar a importância de dedicarmos tempo, recursos e energia à resolução das alterações climáticas e de outros problemas ambientais. O investimento no nosso planeta é necessário para o proteger e é a melhor forma de garantir a prosperidade futura. Ao investirmos, juntos, no planeta, apoiamos comunidades saudáveis, felizes e ricas em todo o Mundo. Por isso, empresas, governos e sociedade civil são chamados à ação contra a crise climática e à colaboração para acelerar a mudança rumo a um futuro verde, próspero e equitativo.
Este é o momento de investir na defesa do planeta e de preservar e proteger a nossa saúde, as nossas famílias, os nossos meios de subsistência. Um futuro verde é um futuro próspero!
Em comunicado, a Organização das Nações Unidas (ONU) refere que as alterações climáticas representam o maior desafio para o futuro da humanidade e para os sistemas de que depende a vida e que tornam o planeta habitável.
As comemorações do Dia da Terra tiveram lugar, pela primeira vez, nos Estados Unidos da América (EUA), a 22 de abril de 1970, promovidas pelo senador Gaylord Nelson (1916-2005), o qual organizou um fórum ambiental que envolveu cerca de 20 milhões de participantes – uma resposta aos problemas ambientais como a poluição, devida sobretudo aos derrames de petróleo.
Mudar o Mundo, além dos governos e das empresas, depende de cada um dos cidadãos. Por isso, o Dia Mundial da Terra é dedicado à consciência e a pequenos gestos que podemos fazer para tornar o planeta ambientalmente mais sustentável.
Dão-se alguns exemplos de gestos que podem ser disponibilizados e tomados por cada um, como opções sustentáveis para melhorar a nossa pegada pedagógica: reduzir o consumo de bens alimentares, roupa e energia; evitar o desperdício; reutilizar tudo o que for possível; reciclar; aderir à compostagem; optar por lâmpadas de emissor de luz (LED: em Inglês, light-emitting diode); evitar materiais plásticos; e utilizar transportes públicos ou até optar por veículos não poluentes, como a bicicleta.
Para esta comemoração, a Fundação Oceano Azul desafiou, uma vez mais, dezenas de organizações portuguesas a celebrarem este dia, sob o tema “O Oceano é a nossa terra”.
Através de várias iniciativas, a fundação pretendeu informar e sensibilizar a sociedade civil sobre a importância que o oceano desempenha na Terra, dar a conhecer a sua biodiversidade, os serviços que presta e os problemas que o afetam. Pretendeu, ainda, sensibilizar para o envolvimento de todos na sua proteção e recuperação.
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No entanto, estamos num impasse. O mundo só tem sete anos para reduzir as emissões para 50%.
O Acordo de Paris, assinado no Dia da Terra de 2016, definiu um plano de ação para limitar o aquecimento global. Os diversos países concordaram em manter o aumento da temperatura média mundial abaixo dos dois graus Celsius (2ºC), em relação aos níveis pré-industriais, e limitar o aumento aos 1,5ºC. Matematicamente, é possível reduzir as emissões de gases com efeito de estufa até 2030, porém, a realidade não é essa. Com efeito, para reduzir as emissões aos níveis definidos, era preciso diminuir, em cada década, entre 2020 e 2050, em 50% as emissões para atingir a neutralidade carbónica, ou seja, reduzir, em 7%, as emissões por ano, para atingir os 50%.
“As alterações climáticas são um problema global e, por isso, não chega serem apenas alguns países a atingir este objetivo. É necessário que todo o Mundo consiga. Com a pandemia, conseguimos, efetivamente, reduzir 7% das emissões, mas apenas porque a economia parou”, diz Carlos Antunes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, relembrando a frase do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, aquando da apresentação do relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas) e como esta explica a necessidade de uma intervenção a nível global: “O nosso mundo precisa de uma ação climática em todas as frentes: tudo, em todo o lado, ao mesmo tempo.”
Em 2023, já perdemos três anos de esforços de redução. Por isso, a partir de 2024 tem de se fazer uma redução de 9,4%, todos os anos. No passado, não há nenhum ano, exceto 2020, em que se tenham conseguido elevados níveis de redução de emissões de carbono.
O IPCC aponta 2100 como o limite para evitar o aquecimento global além dos 1,5ºC. No seu relatório, a organização define uma tecnologia de captura e de sequestro de carbono, como solução para a redução das emissões. Todavia, esta tecnologia não existe a uma escala suficientemente grande e tem um consumo energético demasiado grande. Ora, não se pode colocar esperança numa tecnologia que ainda não existe.
As economias ocidentais evoluíram em eficiência energética e já produzem mais, consumindo menos energia. Não obstante, as economias emergentes precisam de elevados níveis de produção de energia primária, para conseguirem alimentar o crescimento económico que têm vindo a apresentar.
A transição energética é a solução que vários setores apontam para a redução das emissões. Porém, esse esforço está subjacente à redução anual das emissões em 9,4% das emissões, entre 2024 e 2030, e à inversão do “mix” energético.
Atualmente, 84% da energia primária é de origem fóssil, 11% é de origem nuclear mais híbrido e 5% é de origem renovável. Ora, a transição energética implica a inversão deste esquema e um maior peso das fontes de energia renováveis.
O crescimento populacional também tem impacto no consumo de energia. Cada pessoa consome em média, por ano, 20 megawatts de energia e precisa de manter este consumo para continuar a crescer, o que torna complicado compreender como fazer uma substancial transição energética.
Segundo a ONU, a Índia já ultrapassou a China como o país mais populoso do Mundo e, em novembro de 2022, tinha-se atingido o marco de oito mil milhões de pessoas, a nível mundial.
A China e a Índia são dois países onde as emissões estão a aumentar devido ao crescimento da economia. Assim, para ser cumprido o esforço global de redução de emissões, os países ocidentais têm de fazer um maior esforço que neutralize o excesso destes países emergentes. E, para que seja possível atingir a neutralidade carbónica, é necessário um maior esforço de redução da parte de todos os países. Ou seja, é preciso “tudo, em todo o lado, ao mesmo tempo”.
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Entretanto, é de prestar a máxima atenção ao apelo do secretário-geral da ONU, António Guterres, a solicitar mais medidas para combater alterações climáticas.
Efetivamente, o secretário-geral da ONU pediu, neste Dia Mundial da Terra, maior “ação climática” e “investimentos massivos” para países e comunidades mais vulneráveis e incitou todas as pessoas a “levantarem a voz” e a exigirem que os líderes protejam o planeta para o presente e para as gerações futuras. “Os ecossistemas saudáveis, desde oceanos e rios até florestas e pradarias, também são fundamentais na nossa luta contra as alterações climáticas. Vamos trabalhar para implementar o acordo histórico de biodiversidade da ONU, garantindo que 30% da terra e da água da Terra sejam protegidos até 2030”, disse António Guterres, em comunicado.
O secretário-geral da ONU acredita que, embora devam ser os governos a liderar essas mudanças, tanto as empresas como as instituições e a sociedade civil devem ter um papel importante. “As nossas ações estão a arrasar florestas, selvas, terras de cultivo, pântanos, oceanos, recifes de corais, rios, mares e lagos. A biodiversidade está a colapsar, à medida que um milhão de espécies está à beira da extinção. Devemos acabar com estas guerras implacáveis e sem sentido contra a Natureza. Temos as ferramentas, o conhecimento e as soluções. Mas devemos acelerar o passo”, afirmou.
E António Guterres deu como exemplo a sabedoria das comunidades indígenas e o “cuidado milenar” que têm com o meio ambiente.
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Em suma, a saúde do planeta – fator relevante da saúde das pessoas – exige um árduo trabalho em todo o planeta, em terra, em mar e no ar. Não podemos deixar que as alterações climáticas virem o planeta do avesso: aquecimento global excessivo; degelo polar e subida do nível das águas oceânicas; acumulação de lixos em terra e no mar; poluição marinha, atmosférica, sonora, ambiental e do ar; desertificação de extensas zonas de território; desmatação e desflorestação; incêndios florestais; e eliminação de zonas verdes em aglomerados urbanos.
Precisamos do planeta e ele precisa do nosso cuidado.
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27/04/2023