É preciso estarmos atentas e fortes

 É preciso estarmos atentas e fortes

(hedflow.com)

Ventania insistente, sol entre nuvens, vento gelado, nuvens entre o sol. Esta poderia ser, talvez, uma previsão qualquer do clima para um dia de inverno, quase primavera, em terras portuguesas. Poderia, também, refletir uma previsão climática para as eleições que aí se avizinham.

Não temos bola de cristal para previsões dos resultados das urnas. Mas, temos, sim, a esperança de que no ano em que se comemora os 50 anos do 25 de Abril, permaneça o sentimento democrático e de liberdade (do fascismo salazarista) conquistados com a Revolução dos Cravos.

(elo7.com.br)

O processo eleitoral e a sua consequência, após o dia 10 de março, retrata um momento escorregadio pela frente. Foram sete anos de governo do Partido Socialista, e destes cinco de “geringonça” e dois de maioria absoluta. A insatisfação com o longo governo é esperada, afinal, são sete anos! Além disso, principalmente, os dois últimos não foram assim tão fáceis. Mas, aqui, não farei análises político-partidárias, uma vez que não é este o foco da nossa reflexão. Enquanto pessoa imigrante e residente em Portugal, compreendo que essa parcela da população que vive cá representa e poderá representar, futuramente, uma parcela significativa do eleitorado português.

As alterações demográficas e sociais na sociedade portuguesa, principalmente a partir de 2016, com as várias ondas migratórias que para cá vieram, são um aspeto importante a pensar relativamente ao programa eleitoral dos partidos, mas, também, do impacto que as eleições podem trazer na vida dessas pessoas. No caso da população residente de origem brasileira, é exponencial o aumento dos pedidos de cidadania portuguesa por tempo de residência, vindo estas pessoas, no futuro, a recensear-se e a poderem exercer o seu direito ao voto, aqui. Ignorar, afastar ou não contar com essas pessoas como parte de uma parcela da sociedade portuguesa é um equívoco.

(veja.abril.com.br)

Portugal tem precisado, cada vez mais, de pessoas imigrantes para taparem o buraco da falta de mão de obra em diversos setores. Principalmente, aqueles de impacto significativo à economia do país, como o setor dos serviços e do turismo. Não há mão de obra portuguesa suficiente. Este, por si só, é um dos motivos que corrobora sobre a importância de quem é imigrante aqui e o impacto do seu exercício profissional no país.

Discursos de ódio, que contradizem a solidariedade que representa o sentimento de abril, que nos é tão caro, não devem ser tolerados. A solidariedade e a democracia devem ser o caminho a trilhar. Principalmente, neste ano de comemoração dos 50 anos da Revolução dos Cravos.

Não é possível antever o que acontecerá após o dia 11 de março. A única certeza que temos é que, exercer o direito de pessoa cidadã e ir votar no próximo dia 10 de março é viabilizar o exercício da cidadania, através tanto da participação de um dos processos democráticos do país quanto do próprio processo democrático eleitoral, garantido desde a Revolução dos Cravos.

Estarmos e nos mantermos pessoas atentas e fortes é primordial.

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Nota:

O título deste artigo faz alusão à música/canção “Divino, Maravilhoso”, composta por Caetano Veloso e Gilberto Gil, em 1968, e que ficou notabilizada na voz de Gal Costa: “É preciso estar atento e forte […]”

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Nota do Director:

O jornal sinalAberto, embora assuma a responsabilidade de emitir opinião própria, de acordo com o respectivo Estatuto Editorial, ao pretender também assegurar a possibilidade de expressão e o confronto de diversas correntes de opinião, declina qualquer responsabilidade editorial pelo conteúdo dos seus artigos de autor.

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07/03/2024

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Tainara Machado

Tainara Fernandes Machado nasceu em Porto Alegre, no Sul do Brasil e, desde fevereiro de 2019, vive em Portugal. Socióloga e educadora é, igualmente, ativista feminista e assumida anticapitalista e pelo combate à precariedade laboral e da vida. Colabora na associação A Coletiva (Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis) e no Coletivo Andorinha, e também como investigadora colaboradora do Instituto de Sociologia da Universidade do Porto. As suas reflexões expressam os seus estudos, a ação ativista, a sua vida de (i)migrante e as travessias entre o Brasil e Portugal.

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