“Eficiência” CTT

 “Eficiência” CTT

O contrato de concessão do serviço postal universal não acautelou o interesse público. (deco.proteste.pt)

Ontem, 3 de Maio, recebi uma carta do Hospital de Santo António (Centro Hospitalar Universitário de Santo António, do Porto), datada de 27 de Março do corrente ano. A missiva convocava-me para “colheitas de produtos para exames analíticos”. E indicava as 11h20 do dia… 13 de Abril.

Felizmente, os serviços do público “Santo António” são bem melhores que os serviços dos privados CTT. Convocaram-me, também, por correio electrónico e por “SMS”. Se eu não tivesse sido alertado por tais meios, teria faltado aos exames. É esse o risco que correm todos aqueles que dependem dos serviços dos privados CTT, que – pasme-se! – se auto-intitulam Correios de Portugal.

Os CTT reduziram drasticamente o número de balcões,
afectando muitos concelhos do Interior do país. (deco.proteste.pt)

Privatizados há 10 anos, pela charanga de Passos & Portas, os CTT são, hoje, um negócio apenas ao serviço dos interesses dos seus accionistas. Enfim, assume-se como um banco que também vende cautelas de lotaria, e que despediu trabalhadores e fechou postos dos correios.

Recorde-se que o processo de privatização dos CTT, efectuado durante o governo de coligação entre o PSD e o CDS-Partido Popular (à época, liderado por Paulo Portas), colocou Portugal com um “serviço postal universalmente privatizado”, a que não é alheia a crise deste serviço postal.

Luís Montenegro, então líder parlamentar do Partido Social Democrata. (Créditos fotográficos: Reuters – noticiasaominuto.com)

Permitam-me um conselho: não aplaudam a música, alegadamente alternativa, do actual presidente do PSD. Luís Montenegro é, apenas, o artista que agora canta as velhas melodias de Pedro Passos Coelho, de Paulo Portas, de Maria Luís Albuquerque e de Vítor Gaspar. Importa não esquecer que foi ele quem, então na qualidade de líder parlamentar dos sociais-democratas – em Fevereiro de 2014, pouco tempo antes da data (a 17 de Maio desse ano) em que Portugal cessava o programa de ajustamento imposto pela troika (grupo de decisão criado por três entidades, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional) –, confessou ou interpretou aquele fado que tanta gente desgraçou: “A vida das pessoas não está melhor, mas a vida do país está muito melhor.”

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Nota do Director:

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04/05/2023

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Soares Novais

Porto (1954). Autor, editor, jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP). Publicou o romance “Português Suave” e o livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”. É um dos autores portugueses com obra publicada na colecção “Livro na Rua”, que é editada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Tem textos publicados no "Resistir.info" e em diversos sítios electrónicos da América Latina e do País Basco. É autor da coluna semanal “Sinais de Fogo” no blogue “A Viagem dos Argonautas”. Assina a crónica “Farpas e Cafunés”, na revista digital brasileira “Nós Fora dos Eixos”.

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