Em equipa que ganha não se mexe

 Em equipa que ganha não se mexe

Créditos: Randy Fath (Unsplash)

Dizer que vivemos num mundo cheio de coisas novas é não só um lugar-comum, mas também uma verdade de La Palice, pois, de facto, seja qual for a época que se considere, as pessoas que nela viveram sempre foram confrontadas com novidades. E sempre houve pessoas que, mal ou bem, as aproveitaram e outras que se lhes opuseram. No entanto, o ritmo a que as novidades ocorrem nos dias de hoje nunca foi tão elevado, em grande parte devido às tecnologias da informação e comunicação.

O alucinante ritmo da inovação tem o efeito de encurtar a vida útil de muitos dos objetos, ferramentas e sistemas que utilizamos e dos quais dependemos cada vez mais. Um carro com dez anos já é considerado velho. O mesmo acontece com um computador de cinco ou com um telemóvel de três, para não falar das roupas que vestimos, passando de moda em poucos meses.

Poder-se-ia, assim, pensar que algo semelhante acontece com o software do qual depende todo e qualquer sistema informático. Em parte, tal é verdade. Pouco depois de comprarmos qualquer sistema, já nos está a aparecer um pedido de atualização do seu software. Mais ainda, em certos casos, o sistema deixa de suportar novas versões de software, o que nos obriga a considerar a hipótese de o substituir. Na base de tudo isto, existem vários fatores que não abordaremos nesta peça, mas que podem estar relacionados com estratégias comerciais ou com a (má) qualidade do software de muitos sistemas que, para responder às urgências do mercado, são vendidos com software inacabado, alvo de constantes remendos e atualizações. Nesses casos, não se trata, na realidade, de envelhecimento do software, mas sim, pelo contrário, de software que foi disponibilizado muito antes de atingir a maturidade, quiçá numa fase que se poderia apelidar de infância e que, em qualquer caso, está longe da fase adulta.

Créditos: Simon Kadula (Unsplash)

Por outro lado, em muitos ambientes, de que são exemplos alguns sistemas industriais, sistemas militares, operadores de transportes em larga escala, ou sistemas críticos de produção ou distribuição de energia, a estabilidade do software e dos respetivos sistemas é fundamental. Realmente, software com alguns anos não significa obsolescência, mas, pelo contrário, garantia de funcionamento estável, confiança, eficácia. Poderão, até, existir soluções mais modernas. Porém, os custos de transição serão sempre elevadíssimos, pois qualquer alteração exigiria uma análise aprofundada das vantagens e desvantagens, a manutenção em funcionamento do sistema antigo e do sistema novo por um período de tempo considerável, a realização de testes exaustivos e a implementação de planos de contingência, no caso de existirem problemas nessa transição. É por estas razões que muitos desses sistemas utilizam soluções desenvolvidas há décadas e continuarão a fazê-lo enquanto a sua funcionalidade e eficácia não forem comprometidas.  Nesses sistemas, aplica-se a velha máxima de que “em equipa que ganha não se mexe”.

04/07/2022

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Fernando Boavida Fernandes

Professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sendo docente do Departamento de Engenharia Informática. Possui uma experiência de 40 anos no ensino, na investigação e em engenharia, nas áreas de Informática, Redes e Protocolos de Comunicação, Planeamento e Projeto de Redes, Redes Móveis e Redes de Sensores. É membro da Ordem dos Engenheiros. É coautor dos livros “Engenharia de Redes Informáticas”, “Administração de Redes Informáticas”, “TCP/IP – Teoria e prática”, “Redes de Sensores sem Fios” e “Introdução à Criptografia”, publicados pela FCA. É autor dos livros “Gestão de tempo e organização do trabalho” e “Expor ideias”, publicados pela editora PACTOR.

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