Empirismo no pensamento de Aristóteles e no de Roger Bacon

 Empirismo no pensamento de Aristóteles e no de Roger Bacon

(walthus.com)

Se, numa aula de Filosofia, o professor começar por dizer que a palavra “empirismo” tem raiz no grego “empeirikós” e que significa “experiência”, está praticamente tudo explicado. Assim, um tema que quem não sabe julga difícil de abarcar, torna-se tão simples como uma conversa em torno da cozinha, por exemplo.

“Roger Bacon no seu Observatório em Merton College, Oxford”, óleo
sobre tela de Ernest Board (1877-1934). (pt.wahooart.com)

Empirismo, na filosofia de Aristóteles, é, pois, a linha de pensamento segundo a qual todo o conhecimento deve ser baseado na observação do Mundo e não na intuição nem na fé. “Não existe nada na mente que não tenha passado pelos sentidos”, afirmou este pensador grego, que foi o fundador do Liceu de Atenas, no século IV a. C. Esta linha opõe-se ao inatismo de Platão, conhecido como corrente do pensamento que acredita e defende que o conhecimento de um indivíduo é uma característica que nasce com ele ou, dizendo por outras palavras, que lhe é inato. Não obstante ter sido seu discípulo, Aristóteles contrariou esta concepção do mestre.

Quase 17 centúrias depois, o inglês Roger Bacon (1214-1294), filósofo e alquimista, alargou o pensamento de Aristóteles introduzindo a variante experimental, no sentido de trabalho de laboratório. O empirismo deste frade inglês, conhecido como “Doctor Mirabilis” (Doutor Admirável, em Latim), alude, entre outras, às experiências que, séculos depois, continuam a ser feitas nos laboratórios do presente, estando, portanto, na base do método experimental. É, hoje, um dado assente de que só os resultados experimentais permitem a indução em Ciência.

Base ou fundamento do método científico, o empirismo ensina que todas as hipóteses e teorias devem ser testadas por dados experimentais.

 (Créditos fotográficos: Ousa Chea – Unsplash)

Diferente do conhecimento científico (baseado em factos verificáveis e comprovados pela experimentação), o conhecimento empírico, no sentido que hoje vulgarmente se lhe dá, é o que se adquire na nossa vivência diária, aprendendo superficial e acriticamente, através dos sentidos, fazendo, errando e corrigindo. É, em suma, o da experiência pessoal. Não obstante não ser considerado de nível científico, o conhecimento empírico, nesta óptica, foi a base de toda a sabedoria que, ao longo de séculos, conduziu a Humanidade até ao surgimento da Ciência e continua a conduzir todos os milhões de homens e de mulheres que, vivendo à margem da Ciência, beneficiam de tudo o que ela produziu e produz em termos de tecnologia.

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No caso da culinária, por exemplo, o conhecimento é essencialmente empírico, não devendo, todavia, esquecer-se que os electrodomésticos e outros equipamentos ao dispor assentam em conhecimentos verdadeiramente científicos e que, cada vez mais, a Ciência, nomeadamente a Bioquímica, tem vindo a introduzir ensinamentos importantes no que respeita à dieta alimentar.

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02/05/2024

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A. M. Galopim Carvalho

Professor universitário jubilado. É doutorado em Sedimentologia, pela Universidade de Paris; em Geologia, pela Universidade de Lisboa; e “honoris causa”, pela Universidade de Évora. Escritor e divulgador de Ciência.

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