Encontro com a “OLHO.te”

 Encontro com a “OLHO.te”

(Direitos reservados – Facebook)

Ainda bem que este encontro, que aqui relato, aconteceu no dia 2 de Abril. Se tivesse sido no dia 1, poderia ser considerado uma peta.

Assisto a um ensaio na sede da Associação Artística de Solidariedade Social – OLHO.te1, no Bairro da Nazaré, na cidade do Funchal, associação que tem realizado, ao longo dos anos, com a população daquele bairro madeirense, uma actividade comunitária de proximidade, que muito tem contribuído para melhorar a qualidade de vida, promovendo a inclusão social e a participação dos cidadãos na vida da cidade.

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Fui recebido por Hugo Castro Andrade2, da associação OLHO.te e meu jovem ex-aluno da Escola Profissional “balleteatro”, na cidade do Porto. Digo isto com muito orgulho, pois tenho por ele um enorme carinho e amizade, que se prolonga desde que completou a sua formação nas áreas de interpretação teatral.

Escola Profissional “balleteatro”, no Porto. (balleteatro.pt)

Assisti a um ensaio de um novo projecto que envolve os “jovens/seniores” que são os seus actores e actrizes. Elementos muito bem afinados e coordenados na leitura e na vocalização de um texto titulado “Os heróis não existem… EXISTEM”, original de Marco Lima.

Actividade na OLHO.te – Associação Artística de Solidariedade Social. (Direitos reservados – Facebook)

Texto sobre a identidade e o imaginário, sobre as gerações e sobre as relações da memória e da individualidade retratada em “mapas” íntimos. Uma espécie de geografia (ou de topografia) plasmada em papel de cenário, que se transforma numa narrativa visual e emotiva de cada um dos componentes do grupo.

Praceta Venezuela, no Bairro da Nazaré, na cidade do Funchal. (namadeira.pt)

Passear pelo bairro da Nazaré e ver a obra feita, antes e depois, transforma-se num acto de louvor pelo trabalho deste jovem dinamizador que, mesmo nos momentos da pandemia (da covid-19) – ainda tão próximos na nossa memória –, esteve sempre presente em actos de solidariedade, não apenas na distribuição de donativos e de prendas, mas também na oferta de companhia, quando estávamos todos fechados no nosso pequeno universo de quatro paredes.

Fiquei mais rico com este encontro. Fiquei orgulhoso pelo Hugo, pela nossa amizade, pelo nosso percurso junto, de formação mútua!

Como não podia faltar, Hugo Castro Andrade, amante dos autores clássicos, ainda ofereceu aos seus alunos/actores um trecho do livro “Sobre a Velhice” ou “Da Velhice” (“De Senectute”), do autor latino Cícero. Trata-se de uma obra clássica de reflexão ou ensaística sobre a maturidade e o envelhecimento, em que o filósofo se debruça sobre essa fase natural das nossas existências e na qual, em parte, contempla a nossa vida como num palco, comparando com o que ocorre numa comédia, em que o artista “diverte, sobretudo, os espectadores da primeira fila, mas os do fundo aproveitam igualmente o seu espectáculo”. Isso resulta também com a juventude, “que vê os prazeres de perto e os usufrui intensamente, mas a velhice, que os considera de mais longe, tira deles um proveito suficiente”. Concluindo que a velhice “é a cena final dessa peça que constitui a existência”. Portanto, “contentemo-nos com o tempo que nos é dado a viver, seja qual for”.

Alguém já tinha escrito sobre esta associação madeirense, declarando que “ver é importante… mas olhar é essencial”.

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Notas:  

1 – A OLHO.te – Associação Artística de Solidariedade Social está registada como uma estrutura associativa. Desde a data da sua fundação (em 14 de Agosto de 2014), esta entidade privada sem fins lucrativos e que reveste a natureza de associação tem estado a exercer a sua actividade há cerca de 10 anos.

(madeira.rtp.pt)

Esta entidade está inscrita no âmbito do desenvolvimento da actividade pertencente a associações culturais e recreativas. Como lemos na informação oficial, a OLHO.te tem por missão, visão e valores, promover a educação artística, através de metodologias de educação não formal; potenciar a inclusão de jovens e cidadãos socialmente desfavorecidos; contribuir para a divulgação da arte e da cultura, enquanto instrumentos de combate à exclusão social; incutir a veiculação de princípios de cidadania activa à população em geral; reforçar a intergeracionalidade e as relações entre micro-comunidades; assim como, promover a partilha de conhecimentos e de boas práticas com entidades congéneres, a par da criação de espectáculos para todas as faixas etárias.

Hugo Castro Andrade (Direitos reservados – Facebook)

2 – Hugo Castro Andrade tem o curso de Mestrado em Teatro e Comunidade pela Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC), do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL). Foi, durante oito anos e meio, presidente da OLHO.te. Neste momento, é director artístico/criativo, coordenador das actividades e voluntário a dar aulas de Expressão Dramática a crianças, dos seis aos 12 anos, na sede desta estrutura associativa. É também docente de Teatro na Universidade Sénior do Funchal, em protocolo com a Câmara Municipal do Funchal.

Foi, entretanto, convidado a formar reclusos no Estabelecimento Prisional do Funchal, cujo protocolo está para ser assinado no Continente, entre a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais e a OLHO.te. Importa, igualmente, assinalar que, em grande parte destas actividades paralelas, Hugo Castro Andrade confessa não ser remunerado, apenas usufruindo pelo contrato anual que tem com a OLHO.te, associação artística sem fins lucrativos e de utilidade pública, da qual foi mentor e dirigente. Dedicando à esta associação milhares de horas de voluntariado, Hugo Castro Andrade ainda “alimenta a alma” quando volta aos palcos como actor, encenador e director de actores.

Estátua de Marco Túlio Cícero (106 a.C.- 43 a.C.), orador, político e pretor
romano. (escolakids.uol.com.br)

3 – Marco Túlio Cícero (106 a.C.–43 a.C.) foi um advogado, político, escritor, orador e filósofo da República Romana eleito cônsul em 63 a.C. Nasceu numa rica família romana e foi um dos maiores oradores e escritores em prosa da Roma Antiga.

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15/04/2024

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Roberto Merino

Roberto Merino Mercado nasceu no ano de 1952, em Concepción, província do Chile. Estudou Matemática na universidade local, mas tem-se dedicado ao teatro, desde a infância. Depois do Golpe Militar no Chile, exilou-se no estrangeiro. Inicialmente, na então República Federal Alemã (RFA) e, a partir de 1975, na cidade do Porto (Portugal). Dirigiu artisticamente o Teatro Experimental do Porto (TEP) até 1978, voltando em mais duas ocasiões a essa companhia profissional. Posteriormente, trabalhou nos Serviços Culturais da Câmara Municipal do Funchal e com o Grupo de Teatro Experimental do Funchal. Desde 1982, dirige o Curso Superior de Teatro da Escola Superior Artística do Porto. Colabora também como docente na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, desde 1991. E foi professor da Balleteatro Escola Profissional durante três décadas. Como dramaturgo e encenador profissional, trabalhou no TEP, no Seiva Trupe, no Teatro Art´Imagem, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (UP) e na Faculdade de Direito da UP, entre outros palcos.

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