Engolir sapos
Quem, na vida, já não engoliu sapos? É desagradável, não é? Mas, às vezes, tem de ser. Quer seja porque “noblesse oblige”, quer porque “valores mais altos se levantam” e, casualmente, temos de “comer e calar”. “Engolir sapos” é mesmo isso: suportar desaforos ou situações desagradáveis e não reagir.
A expressão “engolir sapos” terá origem no que conta a Bíblia, no Antigo Testamento, sobre as dez pragas do Egipto.
Uma das pragas (a segunda, ver Êxodo 7:26-29 e 8:1-4) foi a invasão do território egípcio por um número incalculável de rãs. Essas rãs metiam-se em tudo quanto era sítio, nomeadamente nas cozinhas, nas despensas, nos quartos, etc. Citando a Bíblia: “O rio regurgitará de rãs; elas subirão para invadir a tua casa, o teu quarto, o teu leito, as residências dos teus servidores e do teu povo, os teus fornos e os teus amassadoiros.”
Durante a preparação dos alimentos, nos pratos e nas tigelas lá estavam as rãs, misturando-se com a comida. Nem os próprios faraós escapavam a esta situação. Quando havia festas no palácio, elas apareciam, naturalmente, sem serem para ali chamadas. Assim, os convidados do Faraó viam-nas nos pratos, mas a “etiqueta” não lhes permitia mostrar qualquer reacção e, por vezes, lá tinham de engolir alguma rã.
O curioso é que a segunda praga bíblica foi de rãs, contudo, por analogia, o que ficou para a posteridade foi a expressão “engolir sapos”. Por conseguinte, não são raras as situações em que evitamos dizer aquilo que gostaríamos, se não estivéssemos condicionados socialmente ou por outros motivos que nos impedem a livre expressão, sendo obrigados a agir contra a própria vontade.
15/09/2022