Ensaio fotográfico sobre poema de Florbela Espanca
“Fiz da poesia o meu refúgio e com ela mascaro a minha dor”. As palavras são de Florbela Espanca, numa espécie de autorretrato incompleto, em que a escritora se desvela e revela mais uma vez. A sua escrita é isso, do princípio ao fim, sem rede, nem defesas ou artificialismos. Neste jogo entre poesia e fotografia, a autora do ensaio dialoga com o texto de Florbela, transformando a “Vaidade” do poema em fragmentos (ou instantes) da sua própria imagem refletida em autorretrato. A “Vaidade” assume-se, assim, como uma ideia, uma possibilidade fugidia, misturando-se no texto, mas mostrando-se pela fotografia. Embora seja o texto que nos olha nos olhos e não a imagem, cujo olhar se esquiva a esse encontro fatal.
Vaidade
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num ver a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo…
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais alto ando voando,
Acordo do meu sonho… E não sou nada!…
Livro de Mágoas”, Florbela Espanca. Ed: Raul Proença, junho 1919