Estar na berlinda

 Estar na berlinda

A berlinda, do alemão “Berline”, é uma carruagem leve, rápida de quatro rodas. Foi concebida, por volta do ano de 1670, para Frederico Guilherme I de Brandemburgo, o Eleitor de Brandemburgo. (pt.wikipedia.org)

Quando falamos em berlinda, podemo-nos estar a referir a um elegante coche ou uma carruagem antiga de dois assentos e quatro rodas, recoberta de uma capota. No entanto, a expressão “estar na berlinda” não tem origem nesta airosa carruagem, admitindo que seria, por isso, sinónimo de ostentação e de riqueza. Esta expressão passou, de facto, para a linguagem popular. Todavia, está, sim, relacionada com um velho jogo: o jogo da berlinda. O autor Sérgio Luís de Carvalho reconhece tal proveniência, no livro “Nas Bocas do Mundo”, publicado em 2010.

Em que consistia esse jogo? Era um jogo de prendas realizado por diversas pessoas, com inúmeras variantes, no qual a pessoa escolhida ia para a “berlinda”. Quem ficava na “berlinda”, colocava-se suficientemente distante dos outros participantes para não poder ouvir o que, acerca de si, comentavam. Estas pessoas, em reunião, diziam, baixinho ou em sussurro, o que pensavam, bem ou mal, de quem estava na berlinda. Se fosse uma mulher, observariam: “É feia.” “É bonita.” “É burra.” “Tem a mania de que é melhor do que as outras.” “É muito parva.” (…)

“Jogo da discórdia” ou “Jogo da berlinda”, no contexto do programa televisivo Big Brother Brasil 22.
(Créditos fotográficos: Reprodução / TV Globo – folhape.com.br)

Depois de emitidas todas as opiniões dos jogadores que estavam em conferência, um porta-voz do grupo contava à pessoa que estava na berlinda todas as opiniões que sobre ela tinham sido emitidas, sem, contudo, indicar qual a sua origem.

A jogadora ou o participante que estava na berlinda ouvia atentamente as opiniões manifestadas e escolhia uma que lhe tivesse agradado ou desagradado mais. A autora ou o autor da frase escolhida ou da sentença seria quem, de imediato, estaria na berlinda, sujeitando-se também às opiniões dos restantes intervenientes. E o jogo recomeçava.

(br.freepik.com)

Actualmente, a expressão significa estar – para o bem e para o mal – em evidência, ser alvo de todo o tipo de ditos e de mexericos, bem como estar na moda, despertando a curiosidade geral. Em Português, “estar na berlinda” corresponde a ser objecto de comentários, da atenção ou da curiosidade. Num sentido negativo, poderá associar-se ao facto de alguém se encontrar ou “ver-se em evidência embaraçosa, por motivo não lisonjeiro”, conforme o “Dicionário Houaiss” (na sua edição electrónica de 2009).

Reiterando a mesma ideia, a plataforma “Ciberdúvidas da Língua Portuguesa” regista que Orlando Neves, no seu “Dicionário de Expressões Correntes” (editado em 2000), considera que “estar na berlinda” tem que ver com o italiano “Essere alla berlina”, expressão com o mesmo sentido que “estar em evidência, em foco”, às vezes com conotação chocarreira ou ridícula.

A berlinda era um instrumento de tortura padrão em quase toda a Europa medieval, e servia como castigo exemplar, destinado a pessoas consideradas briguentas, a bêbados e a ladrões. Consistia numa placa de madeira, na qual a vítima era presa pelos braços e pescoço, limitando-lhe a sua mobilidade. A humilhação podia estar associada também a agressões e a insultos. (aminoapps.com)

Um outro estudioso destas matérias, José Pedro Machado, afirma que “berlinda” é a palavra procedente do italiano “berlina”, cujo equivalente português é o termo “picota”. Ora, como lemos na mesma página da Internet, “a picota era um poste de madeira, erguido em praça pública, em cuja extremidade superior se expunham as cabeças dos justiçados ou, quando guarnecido de argolas e correntes, nele se executavam penas de açoites, expondo os delinquentes ao escárnio público”. Consequentemente, “estar na picota (berlinda) era, de facto, estar bem em evidência”.

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15/06/2023

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Vítor Duque Cunha

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