Falando de falsas (ou “fake”) conferências de imprensa

Créditos fotográficos: Ivana Divišová (Pixabay)
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Quem, em nome individual ou em nome de uma instituição, convoca uma conferência de imprensa “sem direito a perguntas” pretende, apenas, plantar uma floresta de microfones e outras antenas para ampliar tudo o que quer divulgar sem escrutínio. Isto também é um acto de desinformação.
Outros que se julgam muito sérios convocam conferências de imprensa com direito a perguntas, mas enchem a sala de apaniguados prontos a vaiar os jornalistas, num inqualificável acto de intimidação, sempre que estes ousem formular perguntas incómodas.

Isto sem esquecer o ambíguo papel de alguns assessores de imprensa, no limite, capazes de pontapear um jornalista que quisesse fotografar, num local público, um político então sob os holofotes mediáticos. Isso aconteceu em Portugal e o assessor desculpou-se dizendo não saber o que lhe tinha passado pela cabeça.
Vários poderes ainda têm a tentação de olhar para os jornalistas com aquela condescendência magnânima que se desnudava sem pudor quando os jornalistas, tidos como homens de mão, eram chamados de “os rapazes dos jornais”. Ao tempo, havia poucas mulheres na profissão… Hoje, esta triste expressão seria muito mais pejorativa.
Quero acreditar que já ninguém será tão grosseiro a esse ponto, mas esta minha convicção não é muito segura. Na verdade, os jornalistas continuam a ser desrespeitados, pelo menos, quando, por exemplo, são convocados para conferências de imprensa sem direito a perguntas.

Negar a um jornalista em serviço o direito de fazer perguntas é impedi-lo de exercer a profissão. Fazer perguntas é uma das actividades centrais do jornalismo. Não há jornalistas mudos. Nem cegos, nem surdos. Nem há, para esta profissão, perguntas incómodas. O que há muito são potenciais respostas incómodas, se as respostas forem verdadeiras.
Em alternativa, mente-se, desinforma-se, lança-se boatos. Descredibiliza-se, às vezes, ao ponto de o matar, profissionalmente, o mensageiro que não mente e que provoca a resposta incómoda. Entre nós, só em sentido figurado, mas noutras paragens deste mundo globalizado, em sentido real. Tudo isto é desinformação que urge combater sem tréguas.
Desinformação que urge combater, quando a verdade conta.
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(*) Artigo no âmbito do programa “Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa”, promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.
07/11/2022