“Famosos”
Agosto chega ao fim e isso é um “31”. Para os jornais, as revistas e as redes sociais. Para os “famosos” e para a plebe, que também aspira a ser “famosa”. Nas ruas do seu bairro ou à frente das câmaras televisivas. Fazendo o dedo do meio à porta do estádio do clube do seu coração ou dizendo que o tipo que matou a mulher era um “bom homem”.
Ensinam os dicionários que “famoso” é um adjectivo que se aplica a quem “é notável, célebre, muito bom, excelente, que não é comum, extraordinário, invulgar”. Daí não entender que alguns periódicos tenham ocupado espaço com alguns “famosos”, que são comuns e vulgares. Sejam elas e eles “famosos” das novelas ou da bola, profissionais da política, presidentes de junta ou de câmara municipal.
A esmagadora maioria de tais “famosos” fazem-nos ter vergonha alheia. Pelos lugares-comuns que dizem. Pelas declarações apalermadas que fazem. Pelo gargalhar com que finalizam as suas bacoradas. Em boa verdade, não espanta que assim seja. A malta “famosa”, e a outra que o quer ser, não gosta de complicar a sua vidinha. Os rumores do Mundo não ocupam espaço nas suas cabecitas.
“Famosos” e candidatos a sê-lo só se distinguem pela carteira. Mais ou menos recheada. Por via da profissão que exercem. Uns lambuzam-se com pratos alegadamente “gourmet”. Outros com porco assado no espeto. E gostam de exibir as suas comezainas em fotos publicadas numa imprensa cada vez mais vil e nas suas págimas nas redes sociais. Indiferentes à fome a que estão condenadas 735 milhões de pessoas no Mundo.
Um crime que passa ao lado destes “famosos” da treta. E para os outros que aspiram a ser. Também para os jornais, revistas e redes sociais, que cada vez mais só dão espaço a coisas verdadeiramente importantes ditas ou feitas por esta gente “famosa”, exemplarmente vulgar. Ary dos Santos retratou-a em “O Café”, que Fernando Tordo musicou e interpretou. Foi há 50 anos, em 1973. Mas o que Ary então escreveu continua tremendamente actual. Ora confirme, aqui.
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Nota final:
“O Café” integra o álbum “Canções de Ary dos Santos”, produzido por Renato Jr. e lançado em Novembro de 2009, 25 anos após a morte do poeta. As 11 canções compostas por Fernando Tordo, Nuno Nazareth Fernandes e Tozé Brito são interpretadas por Mafalda Arnauth, Susana Félix, Viviane e Luanda Cozett, sob o nome “Rua da Saudade”.
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31/08/2023