“Famosos”

 “Famosos”

(telavita.com.br)

Agosto chega ao fim e isso é um “31”. Para os jornais, as revistas e as redes sociais. Para os “famosos” e para a plebe, que também aspira a ser “famosa”. Nas ruas do seu bairro ou à frente das câmaras televisivas. Fazendo o dedo do meio à porta do estádio do clube do seu coração ou dizendo que o tipo que matou a mulher era um “bom homem”.

Ensinam os dicionários que “famoso” é um adjectivo que se aplica a quem “é notável, célebre, muito bom, excelente, que não é comum, extraordinário, invulgar”. Daí não entender que alguns periódicos tenham ocupado espaço com alguns “famosos”, que são comuns e vulgares. Sejam elas e eles “famosos” das novelas ou da bola, profissionais da política, presidentes de junta ou de câmara municipal.

A esmagadora maioria de tais “famosos” fazem-nos ter vergonha alheia. Pelos lugares-comuns que dizem. Pelas declarações apalermadas que fazem. Pelo gargalhar com que finalizam as suas bacoradas. Em boa verdade, não espanta que assim seja. A malta “famosa”, e a outra que o quer ser, não gosta de complicar a sua vidinha. Os rumores do Mundo não ocupam espaço nas suas cabecitas.

(rede.com.pt)

“Famosos” e candidatos a sê-lo só se distinguem pela carteira. Mais ou menos recheada. Por via da profissão que exercem. Uns lambuzam-se com pratos alegadamente “gourmet”. Outros com porco assado no espeto. E gostam de exibir as suas comezainas em fotos publicadas numa imprensa cada vez mais vil e nas suas págimas nas redes sociais. Indiferentes à fome a que estão condenadas 735 milhões de pessoas no Mundo.

(Créditos fotográficos: Max Böhme – Unsplash) 

Um crime que passa ao lado destes “famosos” da treta. E para os outros que aspiram a ser. Também para os jornais, revistas e redes sociais, que cada  vez mais só dão espaço a coisas verdadeiramente importantes ditas ou feitas por esta gente “famosa”, exemplarmente vulgar. Ary dos Santos retratou-a em “O Café”, que Fernando Tordo musicou e interpretou. Foi há 50 anos, em 1973. Mas o que Ary então escreveu continua tremendamente actual. Ora confirme, aqui.

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(Direitos reservados)

Nota final:  

“O Café” integra o álbum “Canções de Ary dos Santos”, produzido por Renato Jr. e lançado em Novembro de 2009, 25 anos após a morte do poeta. As 11 canções compostas por Fernando Tordo, Nuno Nazareth Fernandes e Tozé Brito são interpretadas por Mafalda Arnauth, Susana Félix, Viviane e Luanda Cozett, sob o nome “Rua da Saudade”.

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31/08/2023

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Soares Novais

Porto (1954). Autor, editor, jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP). Publicou o romance “Português Suave” e o livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”. É um dos autores portugueses com obra publicada na colecção “Livro na Rua”, que é editada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Tem textos publicados no "Resistir.info" e em diversos sítios electrónicos da América Latina e do País Basco. É autor da coluna semanal “Sinais de Fogo” no blogue “A Viagem dos Argonautas”. Assina a crónica “Farpas e Cafunés”, na revista digital brasileira “Nós Fora dos Eixos”.

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