Glaciar, glaciário e glacial

 Glaciar, glaciário e glacial

Vale glaciário do Zêzere (© Giulio)

É frequente, em alguns textos de ensino de Geologia e de Geografia, o substantivo “glaciar” ser usado na qualidade de adjectivo (por exemplo: “vale glaciar”, “modelado glaciar”, “erosão glaciar), o que, em minha opinião, não é correcto.

Posso estar enganado e, se assim for, agradeço ser corrigido. “Glaciar” é um vocábulo comum a estas disciplinas, usado para designar uma entidade (que definirei em nota abaixo), sendo, portanto, um substantivo. E é a este substantivo que corresponde o qualificativo “glaciário”. Assim, o correcto é dizer ou escrever “vale glaciário, “modelado glaciário” ou “erosão glaciária”.

Incorrecto é também o uso (menos frequente, neste discurso) do qualificativo “glacial” (do Latim, glacialis significa “muito frio”, “gélido”). Este outro qualificativo alude, sim, ao gelo no sentido real ou figurado (exemplificando: “temperatura glacial”, “olhar glacial”).

Vale glaciário do Zêzere. (Direitos reservados)

Uma frase que tenha em conta o uso correcto destas três palavras será: “Este vale glaciário da serra da Estrela é o testemunho de um glaciar de vale que aqui existiu, há uns 25 mil anos a 18 mil anos, no alto de uma montanha, num período de frio glacial.”

Glaciar de Aletsch, na Suíça. (Direitos reservados)

Nota para quem não sabe:

Um glaciar é uma massa de gelo que cobre extensões maiores ou menores de terreno, em regiões climáticas, de latitude ou de altitude, nas quais a cobertura de neve é persistente. Quer nas zonas polares (Antárctida e Groenlândia) por razões climáticas próprias destas latitudes, quer nas altas montanhas (vale glaciário de Aletsch, na Suíça, apenas um entre os muitos conhecidos), em consequência do arrefecimento do ar em altitude. Há, nestes dois ambientes, temperaturas glaciais que permitem que a água se mantenha permanentemente no estado sólido.

Alpes suíços Jungfrau-Aletsch (Património Mundial da UNESCO) (© Switzerland Tourism)

01/09/2022

Siga-nos:
fb-share-icon

A. M. Galopim Carvalho

Professor universitário jubilado. É doutorado em Sedimentologia, pela Universidade de Paris; em Geologia, pela Universidade de Lisboa; e “honoris causa”, pela Universidade de Évora. Escritor e divulgador de Ciência.

Outros artigos

Share
Instagram