Humanidade

 Humanidade

Zach Vessels (Unsplash)

Quanto mais observo a forma como, nos dias de hoje, as pessoas utilizam as tecnologias da informação e comunicação (TIC) mais me convenço da urgente necessidade de ensinar aos nossos jovens o que são e como devem ser utilizadas, não tanto em aulas de TIC – que também são necessárias – mas em disciplinas de filosofia e/ou humanidades ou, até, na já famosa disciplina de educação para a cidadania.

Mas o que têm a ver as TIC com as humanidades ou a educação cívica? Ao contrário do que muitos pensarão, tudo ou quase tudo. As TIC estão presentes em muito do que fazemos nos dias de hoje, seja na nossa vida profissional ou pessoal, e têm um impacto determinante na forma como nos relacionamos com outros e como vemos o mundo, seja ele o nosso mundo imediato seja o mundo de comunidades com as quais, aparentemente, não interagimos.

De facto, as tecnologias inundam-nos não de informação, mas sim de dados, dados esses em volumes incomensuráveis, que não somos capazes de processar e entender, que nos tornam incapazes de tomar decisões acertadas e de reagir de forma racional. Por isso nos agarramos às chamadas Apps, tal como se de tábuas de salvação se tratassem, esperando que nos digam, qual oráculo de Delfos, o que fazer, o que ver, o que comer, onde ir, o que decidir. É quase como se nos demitíssemos de ser humanos, de pensar livremente, de analisar racionalmente situações, de usar o livre arbítrio para tomar decisões e nos puséssemos nas mãos de uma entidade que tudo sabe, que tudo contém e que tudo representa, com a qual podemos comunicar a qualquer instante através do nosso telemóvel.

Esquecemo-nos, assim, das pessoas que nos rodeiam, dos sentimentos, da interação com os nossos semelhantes, com o nosso ecossistema, com a terra sobre a qual caminhamos e com o mar que navegamos.

O que é preciso ensinar aos nossos jovens – já que a nós ninguém nos pôde ensinar – é que não têm de – nem devem – optar entre mundo virtual e mundo real, entre TIC e pessoas, entre ser esmagados por todo o tipo de informação ou ficar perdidos, isolados, ignorados, excluídos. Usadas de forma correta, as tecnologias da informação e comunicação aproximam-nos uns dos outros, habilitam-nos a conhecer, analisar, decidir, ser livres e ser mais humanos. Mal usadas, transformam-nos em seres acéfalos, facilmente utilizados e manipulados por outros. Se explicarmos isso aos jovens, talvez ainda não seja tarde para que a Humanidade decida o seu destino, antes que uma qualquer App o faça por nós.

01/12/2020

Siga-nos:
fb-share-icon

Fernando Boavida Fernandes

Professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sendo docente do Departamento de Engenharia Informática. Possui uma experiência de 40 anos no ensino, na investigação e em engenharia, nas áreas de Informática, Redes e Protocolos de Comunicação, Planeamento e Projeto de Redes, Redes Móveis e Redes de Sensores. É membro da Ordem dos Engenheiros. É coautor dos livros “Engenharia de Redes Informáticas”, “Administração de Redes Informáticas”, “TCP/IP – Teoria e prática”, “Redes de Sensores sem Fios” e “Introdução à Criptografia”, publicados pela FCA. É autor dos livros “Gestão de tempo e organização do trabalho” e “Expor ideias”, publicados pela editora PACTOR.

Outros artigos

Share
Instagram