Indecências
Os lucros da Galp (608 milhões, aumentam 86% até Setembro) e do grupo empresarial Jerónimo Martins (419 milhões, crescem quase 30% até Setembro) são obscenos. Conseguidos em tempo de guerra. Tal qual acontecera em tempo de pandemia.
Tais indecências são obtidas a partir de uma falácia. Aquela que aponta a guerra como responsável pela subida generalizada dos preços. Não é verdade.
A subida generalizada dos preços é tão-só a verdadeira fase do capitalismo selvagem, que sempre se borrifa para os povos e para a Humanidade.
Provam-no os aumentos dos bens alimentares, da energia, dos combustíveis, das rendas de casas e dos juros dos empréstimos bancários.
Acrescem a tão grande e evidente obscenidade dois factos: a Galp recusa-se a pagar a Contribuição Extraordinária sobre o Sector Energético (CESE) e o Pingo Doce tem sede fiscal nos Países Baixos.
Isto é, a Galp vive acima da Lei. E o grupo Jerónimo Martins não paga os impostos devidos ao Estado onde opera a esmagadora maioria das suas lojas.
Espera-se que, finalmente, o Governo coloque em prática a Contribuição Temporária de Solidariedade (CTS) imposta pela Comissão Europeia. Tal contribuição será aplicada às empresas que, no ano de 2022, “tenham tido ganhos superiores em 20% à média dos últimos três anos”.
Exige-se, pois, que o Governo, de uma vez por todas, defenda os interesses de todos aqueles que, mesmo trabalhando, são pobres. Os “Amorins”, os “Soares dos Santos” e os herdeiros de “Belmiro” são, apenas, uma imensa e privilegiada minoria…
Nota final: O anúncio, feito por António Costa, de criação de uma contribuição temporária sobre as receitas excedentárias das empresas da distribuição motivou a imediata reacção dos visados. “Ficamos muito surpresos”, referiu ao Público o director-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição, Gonçalo Lobo Xavier, que se mostra, no entanto, confiante na sua reversão. Vamos lá a ver se é desta feita que o Governo é forte com os poderosos.
31/10/2022