Ir a nove
“Ir a nove” ou “andar a nove” é uma expressão popular com mais de um século. Diz-se que alguém vai a nove quando vai a andar ou a deslocar-se muito depressa; ou ainda quando está a fazer algo com muita rapidez. É equivalente à expressão francesa “courir à bride abattue” (correr a toda a velocidade).
A expressão tem origem nos antigos carros eléctricos da Carris, em Lisboa. Os guarda-freios, assim se chamavam os condutores dos eléctricos, além de controlarem, através de manivelas, os respectivos freios (travões), controlavam, por meio de uma caixa de pontos (antigo reóstato de comando, que era um dispositivo utilizado para variar a resistência de um circuito, contendo nove pontos de marcha), a velocidade a que o eléctrico se deslocava.
A velocidade era, de facto, controlada por um manípulo de nove pontos. A primeira posição era a velocidade mais baixa e a nona posição a velocidade mais elevada. Quando o carro eléctrico de transporte de passageiros ia a nove circulava na máxima velocidade, que se aproximava dos trinta quilómetros por hora. Todavia, os eléctricos raramente eram tão velozes, considerando a topografia das ruas e das ruelas íngremes da capital portuguesa.
Com o tempo e na gíria popular, aquilo que era referente à velocidade do eléctrico passou a ser usado também para assinalar as pessoas apressadas. Refira-se que a proveniência lisbonense da expressão “ir a nove” é confirmada pelo filólogo Paulo Caratão Soromenho, no boletim trimestral Olisipo (n.º 139/140), do Grupo “Amigos de Lisboa”. Segundo este estudioso, “ir a nove pontos” constitui uma expressão técnica que “indica a velocidade máxima” dos carros de transporte público colectivo de tracção eléctrica.
29/09/2022