Justiça e injustiça no futebol 

 Justiça e injustiça no futebol 

Depois de ver o cartão vermelho directo, o jovem Leonardo Barroso recebeu prontamente o apoio dos companheiros de equipa. (Créditos fotográficos: Frame: Sport TV – record.pt)

Estão a decorrer jogos de treino e de preparação com vista à nova época de futebol profissional, como acontece todos os anos por esta altura em Portugal e, de uma forma geral, na Europa. 

São encontros de importância relativa que visam, sobretudo, a vertente táctica de cada equipa e o “crescimento” físico dos jogadores, vindos de paragens mais ou menos longas, motivados pelas férias ou pelo final das competições em que os clubes estão envolvidos. 

Num desses jogos, realizado no Estádio Algarve, entre o Sporting Clube de Portugal e a Real Sociedad de Fútbol, de San Sebastián, o treinador “leonino” fez entrar, aos 80 minutos, um jovem jogador de futebol de dezoito anos de idade que, pelas suas qualidades, merecia a distinção de jogar uns minutos com os melhores e, quem sabe, mostrar ao treinador que poderia contar com ele na presente época. 

Era o momento de concretizar o sonho e de o transformar em realidade, junto de futebolistas a quem ele pedia autógrafos, não há muito tempo. 

Quatro minutos depois de entrar em campo, esse jovem atingiu inadvertidamente um adversário num pé, exactamente pela vontade que tinha de mostrar ao seu treinador a sua determinação e a sua vontade em dar tudo pelo sonho. 

(Direitos reservados)

O jogador da Real Sociedad sentiu o toque, queixou-se, mas recompôs-se rapidamente, sem haver necessidade de recorrer à sua equipa médica. O árbitro (não importa o seu nome nem a sua experiência) assinalou falta (o que foi correcto) e, instado pelo VAR (árbitro assistente de vídeo ou sistema de vídeo-árbitro), viu as imagens do lance e optou pela expulsão directa do jovem jogador, matando o seu sonho, destruindo tudo aquilo por que tanto lutara e transformando o crescimento do jovem Ser Humano e do atleta, num impiedoso retrocesso educativo, alicerçado numa decisão baseada na interpretação, pura e dura, da Lei. 

Confesso que fiquei confuso, sem saber muito bem o que pensar, mas achei muito curioso que todos os jogadores do Sporting, no final do jogo-treino, tenham ido falar com o árbitro, expondo as razões que os levavam a defender o futuro imediato do jovem companheiro e percebi, pelo seu menear da cabeça, que o árbitro já não era um homem como eles, mas apenas um “robot”, a quem se cometera a tarefa de executar as Leis do Jogo. Tive pena. 

(Direitos reservados)

Penso que ser juiz implica bom senso e capacidade de interpretação da Lei, de acordo com os parâmetros do caso, do crime, do erro e, também, uma avaliação correcta das condições em que se cometeu o erro. 

Pegar na Lei e aplicá-la não chega. Para isso, não é preciso um juiz, um árbitro, um avaliador. Basta, de facto, um “robot”. 

Acredito não ser disso que o futebol necessita para ser mais correcto, mais leal, mais disciplinado e mais bonito de se ver.

.

27/07/2023 

Siga-nos:
fb-share-icon

Fernando Correia

Fernando Lopes Adão Correia nasceu em 1935. É jornalista, autor e comentador de rádio e de televisão. Começou na Emissora Nacional, aos 19 anos, e passou pelo Rádio Clube Português, pela RDP, pela TSF-Rádio Jornal, pela TVI, pelo jornal vespertino A Capital, pelo jornal O Diário, pelo Record e pelo Jornal de Notícias, com textos publicados em vários outros jornais e revistas. É autor de 43 títulos, entre os quais se destacam os recentes livros: “E Se Eu Fosse Deus?”, “O Homem Que Não Tinha Idade”, “Piso 3 – Quarto 313”, “Diário de Um Corpo Sem Memória”, “São Lágrimas, Senhor, São lágrimas” e “Um Minuto de Silêncio”. O seu próximo livro (a publicar) chama-se “A Mística do Tempo Novo” e é um ensaio filosófico, de auto-ajuda e acerca da construção do Homem Novo. Dos programas que realizou e apresentou na rádio destacam-se: “Programa da Manhã”, “De Um Dia Para o Outro”, “Falar é Fácil”, “Lugar Cativo” e “Bancada Central”, título que, agora, recupera no jornal sinalAberto. Deu aulas de Ciências da Comunicação e de Sociologia da Comunicação no Instituto Piaget, na Universidade Autónoma de Lisboa (como convidado), no centro de formação Palavras Ditas e na Universidade do Algarve (também como convidado).

Outros artigos

Share
Instagram