Justiça e injustiça no futebol
Estão a decorrer jogos de treino e de preparação com vista à nova época de futebol profissional, como acontece todos os anos por esta altura em Portugal e, de uma forma geral, na Europa.
São encontros de importância relativa que visam, sobretudo, a vertente táctica de cada equipa e o “crescimento” físico dos jogadores, vindos de paragens mais ou menos longas, motivados pelas férias ou pelo final das competições em que os clubes estão envolvidos.
Num desses jogos, realizado no Estádio Algarve, entre o Sporting Clube de Portugal e a Real Sociedad de Fútbol, de San Sebastián, o treinador “leonino” fez entrar, aos 80 minutos, um jovem jogador de futebol de dezoito anos de idade que, pelas suas qualidades, merecia a distinção de jogar uns minutos com os melhores e, quem sabe, mostrar ao treinador que poderia contar com ele na presente época.
Era o momento de concretizar o sonho e de o transformar em realidade, junto de futebolistas a quem ele pedia autógrafos, não há muito tempo.
Quatro minutos depois de entrar em campo, esse jovem atingiu inadvertidamente um adversário num pé, exactamente pela vontade que tinha de mostrar ao seu treinador a sua determinação e a sua vontade em dar tudo pelo sonho.
O jogador da Real Sociedad sentiu o toque, queixou-se, mas recompôs-se rapidamente, sem haver necessidade de recorrer à sua equipa médica. O árbitro (não importa o seu nome nem a sua experiência) assinalou falta (o que foi correcto) e, instado pelo VAR (árbitro assistente de vídeo ou sistema de vídeo-árbitro), viu as imagens do lance e optou pela expulsão directa do jovem jogador, matando o seu sonho, destruindo tudo aquilo por que tanto lutara e transformando o crescimento do jovem Ser Humano e do atleta, num impiedoso retrocesso educativo, alicerçado numa decisão baseada na interpretação, pura e dura, da Lei.
Confesso que fiquei confuso, sem saber muito bem o que pensar, mas achei muito curioso que todos os jogadores do Sporting, no final do jogo-treino, tenham ido falar com o árbitro, expondo as razões que os levavam a defender o futuro imediato do jovem companheiro e percebi, pelo seu menear da cabeça, que o árbitro já não era um homem como eles, mas apenas um “robot”, a quem se cometera a tarefa de executar as Leis do Jogo. Tive pena.
Penso que ser juiz implica bom senso e capacidade de interpretação da Lei, de acordo com os parâmetros do caso, do crime, do erro e, também, uma avaliação correcta das condições em que se cometeu o erro.
Pegar na Lei e aplicá-la não chega. Para isso, não é preciso um juiz, um árbitro, um avaliador. Basta, de facto, um “robot”.
Acredito não ser disso que o futebol necessita para ser mais correcto, mais leal, mais disciplinado e mais bonito de se ver.
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27/07/2023