“Leninha”: a pide torcionária
Madalena das Dores Oliveira1 foi a primeira mulher a chefiar uma brigada da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE). Distinguiu-se pela forma profundamente desumana e sádica como tratava as presas políticas. Enquanto as despia, humilhava e espancava, perguntava: “Fala ou não fala, sua puta?” Apesar da sua condição de torcionária, chamavam-lhe “Pide Leninha”.
A história da “Pide Leninha” e dos horrores que protagonizou é-nos contada pelos depoimentos de cinco presas antifascistas: Conceição Matos, Aurora Rodrigues, Helena Neves, Maria Galveias e Helena Pato.
O primeiro episódio do documentário é “marcado” pela voz de Maria Custódia Chibante2, uma das mulheres heroicas do Couço.
A historiadora Irene Pimentel assume a narração e a realizadora Ana Aranha fala do que ouviu quando produziu o programa “No limite da Dor e Histórias Clandestinas”, na Antena 1, com que assinalou os 40 anos do “25 de Abril”. Refira-se que a escritora Ana Cristina Silva3, autora do livro “As Longas Noites de Caxias” (editorial Planeta, em 2019), que integra o Plano Nacional de Leitura, também participa.
O documentário, com realização e argumento de Leandro Ferreira e Jorge Sá, é um claro exemplo do que é fazer serviço público; e assume uma evidente importância na preservação da nossa memória colectiva sobre os “anos de chumbo”. É bom que tenhamos consciência de que às recentes pateadas que ecoaram na Assembleia da República apenas faltaram as botas cardadas dos fascistas.
Pode ver os dois episódios aqui:
Documentário “A Pide Leninha”. Episódio 1 – 1.a parte, em 26.04.2023.
Documentário “A Pide Leninha”. Episódio 2 – 2.a parte, em 27.04.2023.
Notas:
1 – Madalena Dores Oliveira morreu em 2002, vitimada por doença prolongada. Após o “25 de Abril”, foi presa preventivamente. Libertada, entretanto, refugiou-se em Madrid, onde trabalhou algum tempo, como empregada doméstica. Regressou a Portugal, foi julgada e – pasme-se! – condenada a escassos quatro anos de prisão. Em tribunal, nunca admitiu que torturou, mas assumiu a sua admiração por António de Oliveira Salazar e asseverou não suportar “traidores”.
2 – Maria Custódia Chibante, natural da aldeia do Couço, no concelho de Coruche, foi um exemplo de coragem e de combatividade. Foi presa no dia 27 de Abril de 1962. Militante do Partido Comunista, foi uma das primeiras mulheres “a ser torturada como um homem”. Nunca vergou perante as torturas a que foi sujeita, mas compreendia quem falou: “As que falaram não sofreram menos, penso até que sofreram mais nas mãos deles e que depois ficaram com uma dor cá dentro para o resto da vida.” Morreu em 2020, aos 87 anos de idade.
3 – Ana Cristina Silva é doutorada em Psicologia da Educação e docente universitária no ISPA-IU (Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida). Escreveu, até ao momento, dez romances: “Mariana, Todas as Cartas” (em 2002), “A Mulher Transparente” (em 2003), “Bela” (em 2005), “À Meia-luz” (em 2006), “As Fogueiras da Inquisição” (em 2008), “A Dama Negra da Ilha dos Escravos” (em 2009), “Crónica do Rei-Poeta Al-Mu’Tamid” (em 2010), “Cartas Vermelhas” (em 2011, seleccionado como Livro do Ano pelo semanário Expresso e finalista do Prémio Literário Fernando Namora), “O Rei do Monte Brasil” (em 2012, finalista do Prémio SPA/RTP e do Prémio Literário Fernando Namora, tendo sido vencedor do prémio Urbano Tavares Rodrigues) e “A Segunda Morte de Anna Karénina” (em 2013, finalista do Prémio Literário Fernando Namora). Em 2017, o livro “A Noite Não É Eterna” venceu o Prémio Fernando Namora.
Fontes consultadas:
“Antifascistas da Resistência” – https://www.facebook.com/FascismoNuncaMais; e
https://www.facebook.com/AnaCristinaSilvaPercursosLiterarios/?locale=pt_PT.
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01/05/2023