Manga-de-alpaca
Ser empregado de escritório, no início do século XX, era uma profissão com determinado prestígio social. Fazia parte do seu estatuto usar sempre casaco durante todo o tempo de serviço, não podendo trabalhar em mangas de camisa nem, muito menos, com as mangas arregaçadas.
Em grande parte do seu trabalho de escritório ou de administrativo, usava a máquina de escrever para dactilografar documentos, sendo as restantes tarefas completamente manuais e, nesse contexto, para quase todos os registos, o escriturário ou funcionário tinha de utilizar canetas de tinta permanente. Estas não só podiam criar borrões como também a sua tinta demorava a secar, estando sujeito a sujar o casaco. Como a aludida peça de vestuário não é, propriamente, para se lavar todos os dias, os empregados de escritório ou funcionários de secretaria, a fim de se protegerem de “acidentes”, vestiam umas mangas postiças, por cima dos braços dos casacos, que os cobria desde os punhos aos cotovelos e que impediam que o fato ficasse manchado. Essas mangas eram, em geral, feitas de fibras de alpaca ou de lã de merino, habitualmente escuras, para não se notar tanto a sujidade.
Hoje, quase não se utilizam canetas de tinta permanente, tendo estas sido substituídas por esferográficas (sobretudo, após a Segunda Guerra Mundial), as quais não causam os problemas das suas antecessoras. A manga de alpaca caiu em desuso, bem como o rigor exigido na apresentação dos funcionários administrativos.
Por conseguinte, o termo “manga-de-alpaca” é, actualmente, pejorativo e já menos utilizado para designar os profissionais (por exemplo, das repartições públicas, das finanças e dos serviços de contabilidade) que recorrem a processos antiquados e extremamente rigorosos com todos os procedimentos burocráticos e rotineiros.
20/10/2022