“Mimo” inquietou o Porto

 “Mimo” inquietou o Porto

O “Mimo” inquietou o Porto durante três dias. Com arte, filmes, palestras, concertos, “performance”. Com Chuva de Poesia e as palavras de José Saramago, de Pier Paolo Pasolini, de Jack Kerouac, de Agostinho Neto, de José Craveirinha, de Eugénio de Andrade, de Sophia de Mello Breyner Andresen e de Paulo Mendes Campos.

Foi no último fim-de-semana. Em locais históricos da cidade. Como, por exemplo, o Largo Amor de Perdição, o Jardim da Cordoaria, o Passeio das Virtudes ou o Pátio do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto. As gentes do Porto aderiram em massa a este “Mimo”, gratuito.

O festival trouxe artistas de várias partes do Mundo. Do Brasil e da Ucrânia; de Inglaterra e da Nigéria/França; de Itália e do Congo. Ao todo, foram 60 actividades verdadeiramente imperdíveis ao longo de sexta-feira até domingo.

Assisti a algumas, mas permito-me destacar duas:

Mulheres que Fazem Barulho. Foi, no sábado, no Pátio do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto. Ali, Ana Deus, Lena D´Água, Mitó Mendes, Sandra Baptista, Anabela Duarte, Marta Abreu, Francisca Cortesão, Mariana Ricardo, Carolina Brandão e Vera Prokic realizaram um concerto inédito, que marcou o encerramento da exposição “Mulheres que Fazem Barulho – Cenas do Rock Português I”, que teve como palco a Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto. Pelo espectáculo e pela voz de Ana Deus passou a poesia de Maria Teresa Horta, de Judite Teixeira e de Adelaide Monteiro, através do seu poema, escrito em mirandês, Fui mulher, fui silêncio. O final do espectáculo foi apoteótico, com todas as intérpretes no palco, a juntar as suas vozes à voz de Lena D´Água.

A Igreja dos Carmelitas Descalços e a Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Vitória foram palcos para os concertos de Pedro Burmester & Quarteto de Cordas de Matosinhos e de Manuel de Oliveira, respectivamente, enquanto Maria João e Mário Laginha actuaram no Pátio do Museu de História Natural e da Ciência, no domingo, último dia do “Mimo” 2022.

(© Notícias U. Porto – Universidade do Porto)

Video Mapping Casa Comum – Amazónia. Um espectáculo de video mapping, que resultou da colaboração de artistas digitais do Brasil (10 artistas multidisciplinares da Amazónia, de diferentes povos) e do Reino Unido. O projecto Video Mapping Casa Comum Amazónia tem como director artístico Renato Rocha, em parceria com o estúdio criativo SDNA, sediado em Londres.

Casa Comum (Rafael Bqueer) (© SDNA)

As “performances” visuais abordam as questões ambientais, bem como as relacionadas com a arte e com a política, incluindo as questões de género e as inerentes à sexualidade, ao afroturismo, à decolonialidade e à interseccionalidade. E determinam que a maior floresta tropical do Mundo “é híbrida, indígena, preta, ancestral, urbana e também tecnológica”.

Casa Comum (Emerson Uýra / Uýra Sodoma – The Walking Tree) (© SDNA)

O projecto, em grandes dimensões, foi apresentado ao público na fachada do Museu de História Natural e da Ciência da universidade portuense, durante as três noites do “Mimo”.

Este foi o primeiro Festival Mimo no Porto, que nos mimou com inteligência e criatividade. A produtora Lu Araújo e os artistas que nele participaram merecem o nosso aplauso. Ficamos a aguardar pelo “Mimo” de 2023. Com ansiedade.

 Casa Comum (Jayne Kira) (© SDNA)

29/09/2022

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Soares Novais

Porto (1954). Autor, editor, jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP). Publicou o romance “Português Suave” e o livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”. É um dos autores portugueses com obra publicada na colecção “Livro na Rua”, que é editada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Tem textos publicados no "Resistir.info" e em diversos sítios electrónicos da América Latina e do País Basco. É autor da coluna semanal “Sinais de Fogo” no blogue “A Viagem dos Argonautas”. Assina a crónica “Farpas e Cafunés”, na revista digital brasileira “Nós Fora dos Eixos”.

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