Montalegre: a barrosã encantada

 Montalegre: a barrosã encantada

Gado barrosão em pastoreio. (Créditos fotográficos: Martim Soares Novais)

D. Afonso III outorgou o primeiro foral a Montalegre há 750 anos. É uma vila com uma longa história, pois. E isso está espelhado no casco histórico da vila barrosã, que respeita a sua identidade geográfica, económica, social e humana. Predicados que levaram a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) a atribuir-lhe a designação única de Património Agrícola Mundial.

A vila transmontana ergue-se entre o vale do rio Cávado e as serras do Gerês, Barroso e Larouco. E está rodeada de pacatas e acolhedoras aldeias. Nelas, os dias são longos e recheados de Natureza em estado puro. Os produtos saídos das suas entranhas, a produção florestal, a actividade agroalimentar, a restauração, o turismo e a criatividade das suas gentes garantem-lhe o futuro. Provam-no a Feira do Fumeiro e a “Sexta 13” – obra do padre Fontes, o seu mais (re)conhecido embaixador – e o Congresso de Medicina Popular, na aldeia de Vilar de Perdizes, em Setembro de cada ano, desde 1983 (também com o empenho do padre Fontes).

Montalegre recebeu o primeiro foral há 750 anos. (Créditos fotográficos: Martim Soares Novais)

Antes de visitar as povoações que ladeiam a vila, aconselhamos a realização de uma pequena viagem pelo Centro Histórico. Aí, deve visitar a Igreja da Misericórdia e o pelourinho, o castelo e a sua igreja, bem como o Ecomuseu do Barroso-Espaço Padre Fontes, onde pode ver documentários sobre o território e acerca das suas gentes e costumes. Destaco, igualmente, a praça que alberga os Paços do Concelho e o tribunal, o Carvalho da Forca e uma estátua que perpetua a memória de João Rodrigues Cabrilho (que terá sido o montalegrense e o primeiro navegador e explorador europeu a percorrer a costa norte-americana, mais especificamente a actual Califórnia, nos Estados Unidos da América), sem esquecer o Miradouro da Corujeira, o “soberbo” Pavilhão Multiusos e o Auditório Municipal1.

Bento Gonçalves perpetuado em Fiães.
(Créditos fotográficos: Martim Soares Novais)

Obrigatória é também uma peregrinação a Vilar de Perdizes, a Pincães e às suas magníficas cascatas. Continuando este agradável percurso, encontramos a Albufeira do Alto Rabagão, enquadrada pelas serras Barroso e da Peneda-Gerês. Vale. Vale a pena e o esforço conhecer ainda as transmontanas serras do Facho e do Larouco e ir até ao Mosteiro de Santa Maria das Júnias, à Ponte da Misarela e a Fiães do Rio, a aldeia que foi o berço de Bento António Gonçalves, o primeiro secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP) e um dos 37 combatentes pela Liberdade que morreram no Campo de Concentração do Tarrafal (igualmente conhecido como Campo da Morte Lenta), na ilha de Santiago, em Cabo Verde.

Finalmente, caro leitor, delicie-se com a comida de conforto, por exemplo o Cozido à Barrosão e da Posta Barrosã, servidos pelos muitos e bons restaurantes locais. Ao fim do dia, durma o sono dos justos num dos excelentes alojamentos de turismo rural. Montalegre, a vila encantada de Trás-os-Montes, e as suas gentes esperam por si de braços abertos…

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Nota:

1 – No Auditório Municipal de Montalegre, no dia 9 de Junho, foi realizado o espectáculo comemorativo dos 750 anos da outorga do foral à vila.

(cm-montalegre.pt)

Nesse concerto musical comemorativo, coadjuvados pela Banda Musical de Parafita, actuaram os artistas FF (Fernando Fernandes) e Sofia Escobar (a actriz e cantora, nascida em Guimarães, que ganhou o galardão de Melhor Actriz de Teatro Musical em Inglaterra e que foi nomeada para um “Laurence Olivier” – prémio que também é designado Olivier Award, sendo entregue anualmente, pela The Society of London Theatre, como reconhecimento da “excelência” no teatro profissional).

(cm-montalegre.pt)

22/06/2023

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Soares Novais

Porto (1954). Jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. “Diário de Notícias”, “Portugal Hoje”, “Record”, “Tal & Qual” e “Jornal de Notícias” (JN) são algumas das publicações onde exerceu o seu ofício [Fonte: “Quem é Quem no Jornalismo”, obra editada pelo Clube de Jornalistas, em 1992]. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi delegado sindical e dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) [no biénio de 1996/97, sendo a Direcção do SJ presidida por Diana Andringa], da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) e membro do Conselho de Redacção do JN, do qual foi editor-adjunto do “Gabinete de Reportagem” e do “Desporto”. É autor do romance “Português Suave – Cuidado com cão” [1.ª edição “Euroedições”, em 1990; 2.ª edição “Arca das Letras”, em 2004], do livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”, da peça de teatro “E Tudo o Espírito Santo Levou” e da obra para a infância “A Família da Gata Pintinhas”. É um dos autores portugueses com obra publicada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Actualmente, integra a Redacção do jornal digital “sinalAberto”.

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