Mundo inteligente

 Mundo inteligente

Foto de Anthony Tori (Unsplash)

Estou muito feliz com o meu frigorífico inteligente! Topo de gama, com um preço a condizer, com ligação à Internet. Já me serviu de tema para vários posts nas redes sociais e obteve um grande número de likes.

Para além do serviço básico de refrigeração de alimentos, incluído no preço, tem uma série de outras funcionalidades e serviços. É certo que todos eles exigem uma subscrição mensal, paga ao fabricante, mas o que importa isso quando o valor acrescentado é muito superior àquilo que se paga? Vou dar, apenas, alguns exemplos.

Um serviço muito útil é o que me avisa, por SMS, quando determinado produto se esgota ou atinge um limiar mínimo. Em alternativa, posso instalar uma app, que me permite saber exatamente qual o conteúdo do frigorífico, a partir de qualquer parte do Mundo! Imaginemos, por exemplo, que estamos no local de trabalho e não sabemos se temos determinado ingrediente. Uma simples consulta no telemóvel esclarece todas as dúvidas.

Imagem de Gerd Altmann (Pixabay)

Outro serviço, também pago, é o da encomenda automática. Depois de serem definidos determinados limites mínimos de existências, o frigorífico encarrega-se de encomendar e pagar automaticamente os produtos em falta, contactando os respetivos fornecedores! Além disso, pode avisar-me, através da referida app, da data de entrega dos produtos, para que esteja alguém em casa para os receber. Assim, posso ir gastando à vontade, sem me preocupar em repor stocks.

Dado que o frigorífico mantém toda a informação sobre os produtos que contém, pode, também, avisar-me da aproximação das datas de caducidade dos diversos produtos, sugerindo que determinados produtos sejam consumidos antes de outros. Com um frigorífico inteligente nada se estraga!

Como último exemplo, refiro o serviço de aconselhamento dietético. Tendo em atenção o historial de consumos e o meu perfil fisiológico, o frigorífico pode aconselhar-me quanto aos produtos a consumir em cada refeição. Pode, também, sugerir dietas, aconselhar períodos de exercício físico e, até, informar o meu personal trainer sobre eventuais picos de consumo.

(www.hisense.pt)

É claro que tudo isto é ficção, mas não estamos muito longe deste cenário e, em poucos anos, poderá vir a ser uma realidade.

Há cada vez mais serviços ditos “inteligentes”, que analisam constantemente dados relacionados com o nosso comportamento e hábitos, com o objetivo de nos assistir ou substituir na tomada de decisões. Não me refiro, apenas, a redes sociais, motores de busca, telemóveis e respetivas aplicações, mas, naturalmente, também. Em muitos casos, as pessoas ficam fascinadas com esses serviços e chegam a pagar muito mais por produtos ou equipamentos com essas características, sem olhar a critérios de utilidade, de razoabilidade ou, até, de privacidade, crendo que, dessa forma, passarão uma imagem de maior modernidade e inteligência. Mas como pode ser inteligente deixar de pensar, limitarmo-nos a acatar sugestões, delegar em agentes de software a tomada de decisões? Será que pensar é um fardo insuportável do qual nos queremos libertar a qualquer preço? Será que um mundo em que os seres humanos deixam de pensar se enquadra na nossa ideia de um mundo mais inteligente?

Foto de Sage Friedman (Unsplash)

Não se infira, daquilo que digo atrás, que me oponho à utilização de sistemas inteligentes (oponha-me ou não, a realidade é que eles estão aí e vieram para ficar). O importante é que, por um lado, esses sistemas sejam desenvolvidos de acordo com normas éticas, respeitadoras da individualidade e da legalidade. Por outro lado, não menos importante, é que as pessoas os utilizem como ferramentas que lhes permitam ver mais longe, fazer mais, pensar mais e melhor e, sobretudo, ser mais inteligentes.

08/09/2022

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Fernando Boavida Fernandes

Professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, sendo docente do Departamento de Engenharia Informática. Possui uma experiência de 40 anos no ensino, na investigação e em engenharia, nas áreas de Informática, Redes e Protocolos de Comunicação, Planeamento e Projeto de Redes, Redes Móveis e Redes de Sensores. É membro da Ordem dos Engenheiros. É coautor dos livros “Engenharia de Redes Informáticas”, “Administração de Redes Informáticas”, “TCP/IP – Teoria e prática”, “Redes de Sensores sem Fios” e “Introdução à Criptografia”, publicados pela FCA. É autor dos livros “Gestão de tempo e organização do trabalho” e “Expor ideias”, publicados pela editora PACTOR.

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