Na morte de um actor
Na partida de um actor, todos choram a sua morte. O povo e os políticos. Do Presidente da República ao ministro da Cultura.
É assim, agora, com o desaparecimento de Luís Aleluia. Será assim, quando outro actor deixar de pertencer ao número dos vivos.
Também assim aconteceu quando o actor José Lopes, andarilho da cultura, foi encontrado sem vida na tenda em que vivia, nos arrabaldes da luxuriante Sintra.
(Foram os amigos que pagaram o funeral de José Lopes, a quem a Segurança Social tivera a gentileza de cortar o rendimento mínimo.)
Tenho amigas e amigos que são artistas. De teatro e de cinema. Sei da paixão com que se entregam a tão estranha forma de vida…
E sei, igualmente, quão difícil é o seu dia-a-dia. Sobretudo, se vivem e trabalham fora de Lisboa, das novelas televisivas; e quando a cara laroca dá lugar às rugas…
E, também, sei que há gente do teatro que tem uma reforma de miséria, que nem chega para pagar um quarto. Num país entregue ao chico-espertismo de pequenos e de grandes especuladores.
Todos nos comovemos com a morte de um actor. Também o Presidente da República, o primeiro-ministro e o ministro da Cultura. Mesmo que o seu ministério tenha condenado à morte algumas das mais importantes companhias de teatro, como A Barraca, a Seiva Trupe – Teatro Vivo ou a transmontana Filandorra – Teatro do Nordeste.
As actrizes, os actores e os técnicos desses grupos dispensam bem as “lágrimas de crocodilo” dos profissionais da política. Querem, apenas, deixar de ser vivos ignorados e mortos assinalados…
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29/06/2023