Na morte de um actor

 Na morte de um actor

Luís Aleluia no papel de Menino Tonecas. (rtp.pt/madeira)

Na partida de um actor, todos choram a sua morte. O povo e os políticos. Do Presidente da República ao ministro da Cultura.

É assim, agora, com o desaparecimento de Luís Aleluia. Será assim, quando outro actor deixar de pertencer ao número dos vivos.

Também assim aconteceu quando o actor José Lopes, andarilho da cultura, foi encontrado sem vida na tenda em que vivia, nos arrabaldes da luxuriante Sintra.

(Foram os amigos que pagaram o funeral de José Lopes, a quem a Segurança Social tivera a gentileza de cortar o rendimento mínimo.)

Actor José Lopes. (selfie.iol.pt)

Tenho amigas e amigos que são artistas. De teatro e de cinema. Sei da paixão com que se entregam a tão estranha forma de vida…

E sei, igualmente, quão difícil é o seu dia-a-dia. Sobretudo, se vivem e trabalham fora de Lisboa, das novelas televisivas; e quando a cara laroca dá lugar às rugas…

E, também, sei que há gente do teatro que tem uma reforma de miséria, que nem chega para pagar um quarto. Num país entregue ao chico-espertismo de pequenos e de grandes especuladores.

“Pequeno trabalho para velho palhaço” – Seiva Trupe. (dgartes.gov.pt)

Todos nos comovemos com a morte de um actor. Também o Presidente da República, o primeiro-ministro e o ministro da Cultura. Mesmo que o seu ministério tenha condenado à morte algumas das mais importantes companhias de teatro, como A Barraca, a Seiva Trupe – Teatro Vivo ou a transmontana Filandorra – Teatro do Nordeste.

As actrizes, os actores e os técnicos desses grupos dispensam bem as “lágrimas de crocodilo” dos profissionais da política. Querem, apenas, deixar de ser vivos ignorados e mortos assinalados…

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29/06/2023

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Soares Novais

Porto (1954). Autor, editor, jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP). Publicou o romance “Português Suave” e o livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”. É um dos autores portugueses com obra publicada na colecção “Livro na Rua”, que é editada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Tem textos publicados no "Resistir.info" e em diversos sítios electrónicos da América Latina e do País Basco. É autor da coluna semanal “Sinais de Fogo” no blogue “A Viagem dos Argonautas”. Assina a crónica “Farpas e Cafunés”, na revista digital brasileira “Nós Fora dos Eixos”.

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