Não é a Natureza, é o capital
Elaine Tavares
Desde os anos 80 do século XX, a denominada “media corporativa comercial” cunhou um nome para aqueles que fazem alerta sobre os cuidados com o meio ambiente: os “eco-chatos”. Isso porque a cada empreendimento megalomaníaco, obra faraônica ou destruição dos espaços de preservação, essa gente assoma, alertando para os perigos. No geral, são cientistas, estudiosos, pesquisadores, jornalistas, moradores conhecedores dos seus espaços, gente que tem embasamento para falar o que fala. Pois, são ridicularizados como alarmistas, como empata-progresso, como hippies ou como “fora da casinha”.
Mas, com uma boa olhada nos alertas feitos por toda essa gente em todo Mundo, já se descortina a realidade concreta: tudo passa como o denunciado. Diante disso, o que faz a indústria ideológica comunicacional? Coloca a culpa na Natureza.
Hoje, em Maceió, no estado de Alagoas, no Brasil, centenas de famílias estão perdendo as suas casas por conta de uma mina que vem cavando o solo por anos. Agora, o solo está cedendo. O óbvio. O desabamento da mina vai abrir um buraco de 152 metros de raio. Pode abrir uma cratera do tamanho do estádio do Maracanã. Um bairro inteiro vai sumir, casas terão de ser abandonadas, assim como as ruas, os lugares, as árvores, as lagoas e as memórias. A mineradora chegou lá nos anos 1970 e, desde a década de 1980, pesquisadores vêm alertando para a possibilidade de afundamento. Pois, agora aconteceu. Em 2018, já tinha havido um tremor e mais de 60 mil pessoas tiveram de deixar as suas casas. Ainda assim, tudo seguiu.
A mineradora Braskem, empresa graúda, por certo vai indenizar mal e porcamente as famílias, que não conseguirão comprar uma casa nova, e vai para outro canto, destruir outro lugar. Deixará em Maceió o seu legado de morte entre as gentes e no ambiente.
Importante dizer: não é o solo que está ruindo. Não é a Natureza que está se manifestando. É a ação criminosa do capitalismo selvagem, que tudo corrompe, que tudo arrasta na sua sanha de lucro. A mineradora fechou a mina em 2020 e, agora, ela está ruindo. Danem-se os que estão ali. A empresa já se foi.
Bem aqui no Sul da nossa ilha, estamos, há anos, gritando contra a ocupação desenfreada das dunas e da restinga. Nos apontam o dedo: eco-chatos, arautos da desgraça, sempre prevendo o pior. Mas não é previsão, é análise. Um mais um são dois. Não tem como errar. Há pouco tempo, a prefeitura gastou milhões colocando sacos de areia para segurar o mar e proteger casas erguidas nas dunas. Risível. O dinheiro se esvaiu na primeira ressaca. Também os governos andam engordando praias, como se não fosse absolutamente certo que isso não vai dar certo, a médio e largo prazo. E nós é que somos os arautos da desgraça.
No meio disso tudo ficam as pessoas, enganadas pelo discurso fácil do progresso. “Vai trazer emprego, vai urbanizar, vai isso, vai aquilo…”, dizem os governantes cúmplices. Engano.
O ser humano não é descolado do ambiente. Ele é parte. “Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. […]O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo”, diz o célebre discurso ou Carta do Chefe Seatlle. Mas, desgraçadamente, ninguém aprende.
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07/12/2023