Natal dos simples
Gosto da portuense Campanhã. E da permanente agitação da zona. Provocada pelos milhares de viajantes que cruzam as portas da velha estação de comboios. Também gosto das suas gentes, que sempre me acolhem com um sorriso. Como acontece na Cafetaria Nicola, que frequento. Ali, na Nicola, no seu interior ou na sua esplanada, testemunho a espuma dos dias.
Cruzo-me com viajantes vindos de outras paragens, ansiosos por descobrir a cidade que lhes é vendida pelos folhetos turísticos; e com mulheres e homens que ali vão antes de apanhar o “suburbano”, que os levará de volta às suas casas, cumprida que está mais uma jornada de trabalho.
Na última sexta-feira, sentado na esplanada da Nicola, testemunhei a história de Natal que a seguir conto. Perto das cinco da tarde, o chiar dos carros foi abafado pelo rufar dos tambores tocados por dois adultos e por um puto, de cinco ou seis anos, munido de um tambor tão pequeno quanto ele.
Atrás dos tocadores, uma jovem mulher e duas meninas, metidas em corpos frágeis, agradeciam as moedas dadas por muitos daqueles com quem se cruzavam. Esta história de Natal não está recheada de prendas, nem de princesas nem de príncipes. Retrata o “Natal dos simples”, como cantou José Afonso. Daqueles cujas vidas pouco ou nada contam. Num país que não cessa de produzir novos pobres. Mesmo que trabalhem e tenham um salário.
.
25/12/2023