Nem sempre galinha nem sempre rainha
D. João V e D. Maria Ana de Áustria, retratados pelo pintor francês Jean Ranc.
Esta estória da História é bastante conhecida e tem como personagem principal el-rei D. João V.
O rei, casado com Maria Ana de Áustria, era muito mulherengo. A rainha, desconfortável com a infidelidade do seu marido, pediu ao seu padre confessor para que fizesse sentir ao rei a sua insatisfação.
O pobre padre, com muito receio e muito tacto, lá falou com o rei sobre o desagrado da sua mulher perante a sua infidelidade. Para seu espanto, o rei não esboçou qualquer reacção perante o que lhe tinha sido transmitido.
No dia seguinte, ao almoço, foi servido ao clérigo, pelo cozinheiro real, uma apetitosa galinha. O padre nunca tinha comido galinha tão boa. Ao jantar e durante as refeições seguintes, o prato era sempre galinha. O pobre homem já não podia ver galinha à sua frente e foi falar com o cozinheiro, que lhe disse que apresentava sempre aquele prato porque tinha recebido, para tal, ordens reais.
Lá foi o padre falar, de novo, com o rei para perceber a razão de tal ordem. O rei revelou-se muito amistoso e até compreensivo. Sim, comer sempre o mesmo, por melhor que fosse o prato, tornava-se uma tortura. Ele compreendia perfeitamente o clérigo. “Nem sempre galinha nem sempre rainha”, comentou o D. João V.
12/05/2022
