Nos antípodas
O Conselho de Estado reuniu para fazer o balanço de um ano da legislatura em curso. Desconheço se a coisa corria bem ou se corria mal, quando o primeiro-ministro (PM) anunciou que não podia continuar presente, pois “outros valores mais altos se alevantam”: ir à Nova Zelândia ver o jogo de abertura da Selecção Feminina de Futebol no Mundial, que ali decorre.
O insólito, porém, nem é tanto o facto em si, que já vamos estando acostumados a “tácticas” destas na “baixa política” que domina Portugal, de Leste a Oeste e de Norte a Sul. Não faltando um Presidente da República (PR) a fazer publicidade subliminar (objectivamente, foi; de boas intenções está o Inferno cheio, diz-se) de um produto que lhe devolvia a força de uma refeição completa (o que os médicos e nutricionistas negaram ser verdade) e até Ventura, um boçal saído do bas-fond da extrema-direita, via comentador de futebol, no meio deste abaixamento, até parece, às vezes, um tribuno!
Mais insólito do que isto é uma conversa entre pessoas licenciadas (hoje, também quer dizer pouco para atestar da sua cultura e do grau de conhecimento, é verdade), que, a propósito do dito Conselho, comentam:
– Mas, depois, como foi? As coisas correram mal?
– Ah, pois, correram! Perdemos o jogo!
Parece uma anedota ou um diálogo do “Bartoon”, no jornal Público, ou uma ficção de Ricardo Araújo Pereira, com a sua ironia fina, mas não. Passou-se mesmo e foi-me relatado por quem assistiu à conversa.
Por momentos, a governação portuguesa, representada pelo seu chefe, deslocou-se para os nossos antípodas. E fez bem: a política, hoje, em Portugal (e, tendencialmente, por todo o Mundo), está nos antípodas do que ela deveria ser numa defesa da Res Publica. E a bola está do lado dela.
Não faz mal, o Conselho de Estado regressa em Setembro. Então, já todos passaram pelo Algarve ou quejandos e o mercado das contratações do futebol estará fechado. Até lá, para além da propaganda sobre a guerra na Ucrânia e aquelas notícias do Correio da Manhã a fazerem chorar as pedrinhas da calçada, também nada mais se passa. E o que se passar serão sempre casos e casinhos. Importante, com o que o povo se preocupa, diz o PM, é com as coisas reais do dia-a-dia. Tem razão: termos perdido o jogo no Mundial Feminino.
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31/07/2023