O Jornalismo também se libertou naquela madrugada de abril
Alguns jornalistas também saíram à rua. Não livres, porque sempre o foram. Mas, em Liberdade.
Os que sempre lutaram contra a censura e a repressão decidiram que, independentemente do desfecho da Revolução, no dia 26 de abril de 1974, os jornais sairiam sem que as edições fossem previamente verificadas pelos homens dos lápis azuis (e vermelhos).
O jornal República foi o primeiro a tomar esta decisão. Outros seguiram-lhe o exemplo.
Um caminho sem retorno, asseguravam.
“É hoje!”, gritou-se em algumas redações.
Cinquenta anos depois, o Jornalismo resiste!
E a Liberdade de Imprensa passou a ser condição e meio de realização do direito – entretanto, constitucionalmente consagrado – que todos os cidadãos passaram a ter: de se informarem e de serem informados.
E os jornalistas seriam os responsáveis por garantir esses direitos, em nome do interesse público.
Profissionais acreditados comprometidos com os princípios de natureza ética e deontológica que regem a profissão.
Mulheres e homens habilitados a dizer não!
Profissionais que devem recusar ordens ou instruções de serviço, com incidência em matéria editorial, emanadas de pessoa que não exerça cargo de direção ou de chefia na área da informação.
Profissionais que não podem ser constrangidos a exprimirem ou a subscreverem opiniões nem a absterem-se de o fazer, nem a desempenharem tarefas profissionais contrárias à sua consciência.
À luz da lei atual e, fundamentalmente, em observância dos princípios éticos e deontológicos, não se negoceiam histórias a contar por jornalistas. Nem como contá-las.
(Re)inventam-se conceitos, procura-se (re)identificar modelos para justificar o “jornalismo catalogado”, que, amiúde, se vai produzindo à medida.
E “crise” é a palavra que se tem mantido inalterável para justificar todos os devaneios. Na verdade, nunca quem vendeu gato por lebre sobreviveu à humilhação de o ter feito.
Recordamos, incrédulos, o tempo da censura prévia à imprensa. Mas, de facto, a reprovação do trabalho dos jornalistas livres estava identificada. Hoje, vive-se e, pior, aceita-se ou defende-se a autocensura e a ditadura assente em outros fins pouco claros ou não identificáveis.
Saber onde se estava no dia 25 de abril de 1974 já é mais do que reviver a História. Já tivemos tempo de nos situarmos em 50 anos de vivências e de memórias. Importa, agora, saber onde estamos. E, sobretudo, ter consciência de como estamos e do que, realmente, pretendemos para o futuro.
Podemos “ser livres” vivendo oprimidos, mas nunca viveremos em Liberdade se não formos, efetivamente, livres.
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22/04/2024