O meu balanço do ano 2023

No poder desde 2015, o primeiro-ministro, António Costa, renunciou ao cargo por causa de investigação a suposto caso de corrupção. (Créditos fotográficos: EPA – bbc.com)
No plano nacional, a queda do Governo coloca-nos novos desafios para os idos de Março. Vamos esperar pelo bom senso dos eleitores e pelo triunfo, uma vez mais, da democracia portuguesa!
É de lamentar que existam mais de 10 mil pessoas sem abrigo, em Portugal, quando, por exemplo, se constrói e se vende em Lisboa, no bairro da Graça, um apartamento T1 no valor de 450 mil euros! Vergonha total!

No plano internacional, lamentamos a continuação da guerra na Ucrânia e o novo conflito entre Israel e a Palestina. Importa frisar que não é contra o Hamas, é, sim, contra a Palestina! Conflito que parece acentuar-se e que poderá prolongar-se no ano 2024.
Registo também o cinquentenário do Golpe de Estado no Chile e a morte de Joan Turner, a viúva de Víctor Jara, pouco antes de o assassino do seu marido ter sido extraditado dos Estados Unidos da América (EUA). Após a morte de Víctor, Joan dedicou-se a perpetuar a sua memória, bem como o seu trabalho e os seus valores. Em 1984, escreveu “Uma Canção Inacabada: A Vida de Víctor Jara” e criou a Fundação Víctor Jara.

Uma boa notícia (Diário de Notícias, edição de 20 Dezembro de 2023): “Trump impedido de participar nas eleições primárias do Colorado em 2024 – Foi a primeira vez que um tribunal impediu um candidato presidencial de participar numas eleições, ao abrigo de uma disposição da Constituição de 1868 que impede os radicais de ocuparem cargos.”. Vamos esperar pelo resto dos acontecimentos nos EUA.
No plano teatral, o Teatro Nacional São João (TNSJ), no Porto, afirma-se como o melhor e mais activo espaço de representação, acolhimento e experimentação teatral do Norte do país.
Entre as suas belas produções, posso destacar, como espectador: “As Bruxas de Salém”, de Arthur Miller; “Um Sonho”, de August Strindberg; “O Canto do Cisne”, de Tchekhov, e ainda “Suécia”, a primeira experiência teatral de Pedro Mexia, ambas com encenação de Nuno Cardoso.

Outro espectáculo a destacar, em 2023, foi “Longa Jornada Para a Noite”, de Eugene O’Neill, uma coprodução entre o TNSJ e o Ensemble – Sociedade de Actores, com versão cénica e encenação de Ricardo Pais.
Assinalo, igualmente, o regresso de duas produções a partir da obra dramatúrgica de Bernardo Santareno, servindo-me da própria informação fornecida pelo TNSJ: “Numa sessão dupla dedicada a um dramaturgo único. Com o mesmo elenco de a[c]tores e no interior do mesmo dispositivo cenográfico, o encenador João Cardoso promove o encontro e o diálogo entre dois espe[c]táculos recentemente estreados nos palcos do TNSJ. No coração deste resgate encontramos Bernardo Santareno (1920-1980), dramaturgo decisivo do século XX português, ‘um talento obsessivo e sombrio’, nas palavras de Jorge de Sena. A Promessa (1957) e O Pecado de João Agonia (1961).”
Também foi o ano do lançamento de “25”, álbum fotográfico que celebra um quarto de século de existência do Ensemble – Sociedade de Actores, que integra, entre outros, Jorge Pinto e Emília Silvestre. E da homenagem que o TNSJ prestou à poeta Ana Luísa Amaral (1956- 2022). “Diz toda a Verdade mas di-la oblíqua” foi um tributo à escritora, falecida em Agosto, aos 66 anos, através da leitura encenada de alguns dos seus poemas e dos poemas de autores que traduziu.

Nos dias 11 e 12 de Dezembro, o Teatro Nacional São João acolheu a primeira Conferência Internacional do ARTHE – Arquivar o Teatro, um projecto do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Registo ainda a continuidade do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI) em 2023. O FITEI foi inaugurado oficialmente em 1978, mas, no ano passado, reafirmou a sua importância na divulgação digital da sua programação. De uma nota informativa por parte deste festival, retemos que Novembro “foi o último momento de programação do FITEI Digital em 2023”. Acrescentando: “Ao longo deste ano, que marcou o início da existência pós-pandémica da plataforma, construímos uma programação heterogénea e internacional, apostando sempre na difusão e produção de proje[c]tos que transportam a ideia de performance – e de presença – para a esfera digital. Entre eles, contamos a primeira encomenda original do festival, integrada na Cole[c]ção Original, alguns trabalhos adaptados, pela primeira vez, para um contexto online, e espe[c]táculos e curtas-metragens com circulação prévia. No total, são 15 os artistas/companhias que ocupam a nossa plataforma este ano.”

A realização do V Festival Internacional de Teatro José Guimarães, organizado pela Tuna de Santa Marinha, de Vila Nova de Gaia, no qual participaram além das companhias profissionais de teatro, as escolas de teatro da cidade do Porto, o Ballet Teatro-Escola Profissional do Porto e a licenciatura em Teatro da Escola Superior Artística do Porto (ESAP).
E, como sempre, o regresso do Fantasporto – Festival Internacional de Cinema do Porto, a bela obra cinematográfica/festivaleira idealizada por Mário Dorminsky e por Beatriz Pacheco Pereira, na sua 43.ª edição, que aconteceu entre 24 de Fevereiro e 4 de Março, no histórico Cinema Batalha, agora denominado Batalha Centro de Cinema.
O Batalha Centro de Cinema cumpriu, no mês de Dezembro, um ano de actividade cheio de ciclos, de exibições e de sessões académicas. Um êxito total de público ou de audiência!

E cumpriu-se uma vez mais o encontro com o Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP), cujos objectivos estavam direccionados, conforme regista a página electrónica do Teatro Municipal do Porto: “Memória, imagem e manipulação. A programação do fimp’23 articula, na sua pluralidade, combinatórias possíveis entre estes conceitos. A experiência subje[c]tiva da vida a acontecer, num mundo sempre em movimento, inspirou a montagem de alguns dos espe[c]táculos que se apresentam. Lembrar e esquecer, evocar e reconstruir, a[c]tualizar – tudo isto são funções da memória que operam a partir da criação e da manipulação de imagens. Nesta edição é também no encontro de cada um(a) de nós com a História, enquanto processo de transformação social e política que somos interpelados.”

Lamentamos a morte de Carlos Avilez (1935-2023), o encenador experimentalista e fundador do Teatro Experimental de Cascais. E, mais próximo de nós, o desaparecimento de Manuel Ramos Costa, fundador e encenador da Contacto – Companhia de Teatro Água Corrente de Ovar. Nascido no lugar da Ribeira, em 1956, foi neste ambiente de costumes e de tradições ancestrais respeitosamente preservadas que se desenvolveu o espírito irrequieto e criativo de Manuel António da Silva Costa – o seu nome de registo e de baptismo –, que viria a desabrochar no escritor, no poeta, no pintor, no dramaturgo.
Agora, desejo-vos um Bom Ano de 2024, cheio de Teatro e de PAZ!
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01/01/2024