O primeiro automóvel em Portugal
O primeiro automóvel que circulou em Portugal foi um Panhard & Levassor, importado directamente de Paris, em Outubro de 1895, e propriedade de D. Jorge Avillez – o IV Conde de Avilez –, um jovem aristocrata de Santiago do Cacém, no distrito de Setúbal.
A sua entrada em Portugal causou um imbróglio à Alfândega de Lisboa dado não saber qual a taxa aduaneira que devia aplicar a tão estranho veículo ou artefacto. A dúvida instalou-se: seria uma máquina agrícola ou uma máquina movida a vapor (locomobile)? Os serviços alfandegários optaram pela segunda suposição.
Jorge de Avilez de Sousa Feio (1869-1901) vivia em Santiago do Cacém e, segundo consta, logo na sua primeira viagem da Alfândega de Lisboa para a sua casa, teve um acidente.
Rezam as crónicas que, já na entrada desta vila alentejana, atropelou um burro. O jumento, que então circulava no meio da estrada, não se afastou a tempo e o seu atropelamento e morte foram inevitáveis. O dono do burro, no entanto, foi rapidamente compensado pela morte do animal, tendo o conde Avilez recompensado o seu proprietário com uma importância correspondente a cerca do triplo do valor do jumento.
Nos anos 50 do século passado, este automóvel foi doado – pelos herdeiros de João Garrido, dono da Garagem Auto-Palace – ao Automóvel Clube de Portugal, com a condição de ficar no Porto. Encontra-se, hoje, em exposição no Museu dos Transportes e Comunicações da Alfândega, nesta cidade.
Mas o número de automóveis aumentou rapidamente. Na viragem do século XIX para o século XX, já estavam registados em Portugal 150 veículos. Dez anos mais tarde, eram mais de 600.
O príncipe D. Afonso de Bragança (“O Arreda”, personalidade considerada no artigo anterior desta rubrica) era um grande entusiasta de automóveis e, por isso, organizou, em Agosto de 1902, no hipódromo de Belém, a “primeira corrida”!. A mencionada prova automobilística, que constava de 10 voltas ao hipódromo, foi ganha por um Locomobile conduzido por um americano de nome Abott, com quase duas voltas de avanço.
O infante D. Afonso, conduzindo o seu Fiat, ficou em segundo lugar, mas, dado o seu estatuto, foi considerado vencedor. É assim mesmo, “noblesse oblige”!
Entretanto, como lemos na página electrónica do Automóvel Club de Portugal (ACP), um grupo de entusiastas reuniu na redacção do jornal A Época, a 6 de Setembro de 1902, com a intenção “de estudar os meios de desenvolver o automobilismo em Portugal, dada a importância que este género de desporto tem adquirido ultimamente em todas as nações cultas”. Então, também “se associaram diversas personalidades influentes na sociedade portuguesa encabeçadas pelo Infante D. Afonso de Bragança, ele próprio um apaixonado pelo automobilismo”.
Dessa reunião, como regista o sítio electrónico do ACP, “saiu a vontade de se fundar um clube, mas antes foi decidido fazer uma corrida de automóveis em estrada”. Nesse sentido, foi nomeada uma comissão executiva para realizar “uma grande corrida de automóveis”, no Outono de 1902, entre a Figueira da Foz e Lisboa (Campo Grande).
Recorda ainda o ACP que o “primeiro vencedor de uma corrida de automóveis na Península Ibérica foi um Fiat do Infante D. Afonso, irmão do Rei D. Carlos, que foi conduzido pelo motorista italiano Bordino” e que em “segundo lugar ficou um Darraq, conduzido por Afonso de Barros”.
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27/07/2023