O primeiro milho é dos pardais

(capeiaarraiana.pt)
Em Roma, os agricultores ofereciam aos pássaros os primeiros frutos das suas colheitas com o sentido de que as aves, na sua subida aos céus, levassem aos deuses estas oferendas humanas. Este acto era, pois, religioso.
Tal procedimento permaneceu na memória popular consubstanciado na expressão “o primeiro milho é dos pardais”, de aparecimento muito mais tardio. Isso porque o milho só surgiu na Europa no século XVI, tendo sido levado da América. Também as aves foram simbolizadas pelos pardais.

O acto que, em Roma, tinha um significado religioso passou a ter um significado depreciativo e até irónico. Quando alguém evoca esta expressão poderá estar a referir-se, com ironia ou de forma sarcástica, a uma pessoa impaciente ou inexperiente que, nos primeiros momentos, parece estar em vantagem, mas que rapidamente a poderá perder para outro indivíduo mais experiente.
Segundo o estudioso António Nogueira Santos (autor dos “Novos Dicionários de Expressões Idiomáticas”, Edições João Sá da Costa, Lisboa), esta expressão aplica-se aos “fracos ou inexperientes” que se precipitam “para colher as primeiras vantagens (estando implícito que estas não são as melhores nem as mais decisivas)”.

Por seu lado, a plataforma Ciberdúvidas da Língua Portuguesa regista que, como confirma o dicionarista Orlando Neves (autor do “Dicionário das Origens das Frases Feitas”, Lello & Irmãos Editores, Porto), esta expressão remonta, como já foi mencionado, ao tempo dos Romanos, quando “os agricultores lançavam às aves os primeiros frutos que surgiam, oferenda que os seres divinos recebiam da boca dos pássaros”. Por conseguinte, a referência a “este gesto mecânico de atirar os primeiros cereais às aves permaneceu na memória popular com as substituições inevitáveis: o milho, que surgiria, na Europa, só no século XVI, os pardais como símbolo de todas as aves, e a deturpação do significado votivo que passou a irónico, ligeiro”.

Muitas vezes, diz-se quando algo está a correr mal ou se está em perda. Assim, esta expressão serve como advertência, no sentido de fazer saber que o assunto em disputa não está terminado e que, apenas, foi ganha uma batalha, mas não a guerra.
13/04/2023