O que é a ciência polar?
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Numa frase simples, ciência polar é toda a ciência que é feita nas regiões polares, no Ártico (que inclui o Pólo Norte) e na Antártida (que inclui o Pólo Sul). Nas regiões polares, a ciência é feita numa grande variedade de áreas, desde a oceanografia à biologia, à astronomia e à medicina, entre muitas outras, cujas respostas poderão ser úteis à sociedade. E Portugal tem estado envolvido em muitas delas.
Registam-se particularidades interessantes nestas regiões mais frias do planeta: ambas possuem grandes quantidades de gelo, possuem animais enigmáticos (ursos polares no Ártico e pinguins na Antártida) e ambas têm um papel importante quanto ao aumento do nível do mar devido ao degelo – se partes das regiões polares derretessem, teríamos um aumento significativo do nível do mar (certamente, superior a cinco metros).
Existem diferenças evidentes entre as regiões polares, tais como: o Ártico é um oceano congelado, enquanto a Antártida é um continente rodeado por um Oceano (Oceano Antártico); o número de plantas é muito maior no Ártico; os animais terrestes são mais numerosos no Ártico (a exemplo do urso polar), enquanto na Antártida não existem (o animal terrestre antártico é um ácaro ou piolho).
Além dos vários recursos que possuem (pesqueiros e minerais, entre outros), o que se estuda cientificamente nas regiões polares tem importância planetária. Por isso, Portugal dispõe de cientistas de mais de 15 institutos de investigação de várias universidades a investigar questões tais como a capacidade de os animais (como os pinguins) se adaptarem às alterações climáticas, o efeito da poluição nas regiões polares ou as mudanças do permafrost (áreas permanentemente geladas). Outras preocupações destes investigadores dizem respeito às quantidades de dióxido de carbono (e de outros gases), bem como ao papel da educação e da comunicação de ciência das regiões polares, além de como os conhecimentos científicos poderão ser transferidos para medidas políticas para as regiões polares. Recentemente, as comunidades científicas reuniram-se para debater sobre quais as grandes questões científicas que precisam de ser abordadas nos próximos 20 anos, quer no Ártico (Exercício ICARP III) quer na Antártida (Exercício SCAR Horizon Scan), onde estas áreas que Portugal também investiga estão a ser desenvolvidas.
Os cientistas portugueses têm tido, igualmente, um papel nas várias organizações internacionais ligadas às regiões polares: nas organizações científicas (por exemplo, International Arctic Science Committee – IASC e Scientific Committee on Antarctic Research – SCAR); nas organizações de jovens cientistas (como a Association of Polar Early Career Sceintists – APECS); nas organizações educativas (refira-se a Polar Educators International – PEI) e em organizações de gestão (a exemplo da Antarctic Treaty System). Num contexto em que a ciência realizada nas regiões polares é extramente dispendiosa, existem numerosas colaborações internacionais, abordando importantes questões científicas de um modo interdisciplinar, com o apoio de vários países, o que torna a nossa ciência mais atraente, mas também com mais impacto e com reduzidos custos.
A ciência polar é um grande desafio por estarmos a realizar ciência em zonas mais remotas do planeta, mas é sobretudo um verdadeiro privilégio. Ambas as regiões são lindíssimas, com icebergues gigantes e animais – como os pinguins e os ursos polares – que nunca viram seres humanos. As expedições podem durar muitos meses, o equipamento científico usado é da mais recente tecnologia e a segurança, enquanto lá estamos, é levada ao extremo (recordo que o hospital mais próximo onde costumo ir na Antártida fica a mil quilómetros de distância).
Uma expedição poderá demorar anos a planear. De momento, com as grandes mudanças ambientais que temos registado nas regiões polares, aquilo que lá estudamos está a ter muita relevância ao nível educacional. Numerosos cientistas polares portugueses têm ido às escolas – todos os anos e em todo o território nacional – mostrar a importância das regiões polares para o nosso planeta, assim como explicar o que é ser cientista polar em Portugal e o que fazemos cientificamente. Como objectivo mais importante, pretende-se inspirar a futura geração de jovens cientistas para os grandes desafios que aí vêm. E a ciência polar pode ajudar…
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(*) Artigo no âmbito do programa “Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa”, promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.
09/05/2022