O que é a Geologia?

 O que é a Geologia?

Grand Canyon (Créditos: Quinn Nietfeld – Unsplash)

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Com excepções, que sempre convém ressalvar, a Geologia não faz ainda parte das preocupações dos Portugueses e, aí, estão muitos dos nossos agentes económicos e de cultura, jornalistas e decisores políticos. Há, pois, que inverter esta situação e essa tarefa tem de ser feita na escola, onde não me canso de denunciar a pouca importância que sempre foi dada a esta disciplina.

Lado a lado com a Biologia, a Oceanografia e a Climatologia, a Geologia é uma parte importante das Ciências da Terra, que se ocupa do mundo não vivo ou inorgânico, formado não só pelas rochas e os seus minerais, mas também pelos testemunhos petrificados das incontáveis formas de vida que povoaram a Terra, desde as muito antigas, com mais de 3800 milhões de anos, às muito recentes, com apenas alguns milhares.

(Pixabay)

As rochas formam a parte rígida do nosso planeta a que chamamos litosfera. Afloram à superfície dos continentes e formam o substrato dos oceanos, nos quais tem lugar um dos processos mais importantes da dinâmica global, isto é, a expansão dos seus fundos, num alastramento que determina a hoje inegável deriva dos continentes.

Em terra e em condições favoráveis de humidade e de temperatura, a capa externa das rochas transforma-se em solo por acção dos agentes atmosféricos, de certas bactérias, das plantas que nele fixam as suas raízes e de alguns animais, como vermes e insectos que nele habitam. Muita gente anda esquecida e não repara que sem os solos não haveria vida sobre as terras emersas. Num esquema particularmente simplificado, basta lembrar que, se não houvesse solo, não havia plantas; e que sem plantas não havia herbívoros e, sem estes, não haveria carnívoros nem esta espécie Homo dita sapiens que somos nós.

(www.cienciasnatureza.com)

A atmosfera que, actualmente, nos rodeia e nos assegura a vida é o resultado de uma interacção constante e contínua que existiu, desde há uns 2700 milhões de anos, entre organismos muito simples, como cianobactérias e a cobertura gasosa do planeta. Muito diferente da actual, a atmosfera primitiva não tinha oxigénio. Foram esses seres “descobridores” da clorofila (um pigmento verde contido no seu organismo) que produziram, por fotossíntese, o oxigénio necessário à respiração dos animais. Trata-se de um processo que continua a ser assegurado por todas as plantas que nos rodeiam.

É por isso que dizemos que os parques arborizados, no interior das cidades, são os seus pulmões. E é por isso que lutamos pela defesa da Amazónia e de todas as florestas de quaisquer latitudes, pois são elas que fornecem a parte mais importante, cerca de 21%, do ar que respiramos.

As rochas, a água, o ar e os seres vivos conviveram, entre si, ao longo da maior parte da história do “Planeta Azul”. Deste modo, a biodiversidade que hoje nos rodeia é uma consequência dessa interacção durante a já referida imensidade de tempo, sendo a espécie humana o mais recente e complexo resultado desse convívio.

A Terra no seu conjunto, os fundos marinhos, as rochas, os minerais, os fósseis e os solos são temas de estudo da Geologia. Mas há outros, não menos importantes, como são a erosão e a subsequente formação das rochas sedimentares, os glaciares, os rios e os desertos, o nascimento e a elevação das montanhas e o rasoirar das imensas planícies, os vulcões, os sismos e a deriva dos continentes. Nestes estudos, a Geologia não dispensa os ensinamentos de outras ciências, com destaque para a Biologia, a Química, a Física e alguns domínios da Matemática.

Mineração (Wikipédia)

Os recursos minerais, nomeadamente, os minérios de ferro, de alumínio, de cobre, de ouro e de muitos outros, bem como as fontes energéticas – sejam elas petróleo, gás natural, carvão, geotermia ou nuclear – foram e são determinantes na História da Humanidade. As águas subterrâneas e o conhecimento dos terrenos, com vista à construção de barragens, pontes, estradas e outras grandes obras de engenharia, são suportes fundamentais da civilização. Todos estes domínios e, ainda, a defesa do ambiente natural e a preservação do património geológico e paleontológico representam aspectos práticos da Geologia ao serviço da sociedade, em desenvolvimento sustentado, com profundas implicações económicas, sociais e políticas, à escala local, regional e global. Acresce ainda, e é bom não esquecer, que a Geologia, como ciência fundamental, sempre teve a maior importância no pensamento filosófico, desde a Antiguidade aos nossos dias.

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(*) Artigo no âmbito do programa “Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa”, promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.

21/07/2022

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A. M. Galopim Carvalho

Professor universitário jubilado. É doutorado em Sedimentologia, pela Universidade de Paris; em Geologia, pela Universidade de Lisboa; e “honoris causa”, pela Universidade de Évora. Escritor e divulgador de Ciência.

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