O que pensa dos aumentos dos combustíveis rodoviários?
Há seis dias, o jornal económico digital ECO informava que, na actual semana, deveríamos pagar 1,698 euros por litro de gasóleo simples e 1,823 euros por litro de gasolina simples 95, acentuando que, em cinco semanas, o litro de diesel subiu 20 cêntimos. Quisemos sondar as opiniões dos automobilistas numa das bombas da Galp Coimbra Shopping, na Avenida Vale das Flores, em Coimbra, que hoje (17 de Agosto) está a vender a gasolina 95 simples a 1,902 euros por litro e o gasóleo simples a 1,814 euros por litro.
Pouco passa das 10 horas, procuramos entrevistar dois condutores em momentos próximos. Ambos de meia-idade, homem e mulher evidenciam o seu descontentamento com os sucessivos aumentos dos combustíveis rodoviários, mas recusam manifestar publicamente o que pensam sobre o assunto.
Minutos depois, estabelecemos conversa com um jovem adulto brasileiro que, desde que chegou a Portugal, em 2 de Agosto, desenrasca algum trabalho como estafeta da Glovo. A respeito do preço dos combustíveis no nosso país, não sabe o que dizer, embora reconheça que “as coisas não estão fáceis”. “A gente vai para a luta e é arriscado!”, manifesta Everton Lima, natural de São Paulo, onde trabalhava com uma empilhadeira. Separou-se da mulher e de três filhos, para – deixando de manobrar máquinas que carregam e descarregam mercadorias em paletes ou estrados – conduzir uma motorizada pelas ruas de Coimbra e, assim, entregar comida rápida de porta em porta.
Um outro condutor, que abastece na bomba 2 desta gasolineira, mostra-se bastante apreensivo com a escalada de preços dos combustíveis. Comunicativo e informado, Alfredo Lourenço Pinto tem em conta o duplo aumento devido aos impostos (pois, sente directamente no seu bolso que o Governo está a eliminar os apoios para mitigar os efeitos dos preços do ano passado) e desconfia da forma como se verifica o descongelamento (com os correspondentes aumentos) no valor da taxa de carbono. Neste contexto, a subida do preço final médio semanal, no início de Agosto, de acordo com os dados reportados pela Direcção-Geral de Energia e Geologia, foi de 8,7 cêntimos por litro no gasóleo e chegou aos nove cêntimos por litro.
“Eu acho que isto é um absurdo. A gasolina 95 está quase a dois euros por litro e o gasóleo, neste momento, tende a ser mais caro do que a gasolina de 95 octanas [aditivos]”, expressa Alfredo Lourenço Pinto, apontando para o seu automóvel estacionado para abastecer: “Tenho, ali, a minha filha com a qual, nesta altura do ano, costumo dar uns passeios. É insuportável o preço! Nunca gastei tanto dinheiro em férias. Se queremos ir ali ou acolá, já restringimos nas distâncias.”
“Antes, enchíamos o depósito de um automóvel Ford Fiesta, por 40 euros. Agora, essa importância mal chega para três quartos do depósito do carro”, observa este reformado do sector da hotelaria, restauração e similares, considerando “revoltantes os lucros das grandes empresas de combustíveis em Portugal”.
“Estamos, aqui, ao pé do hipermercado Continente, onde os preços que nos apresentam também são absurdos. Quando nos falam da crise e da inflação, esquecem-se de que as grandes superfícies comerciais e de distribuição estão a ter lucros diabólicos?”, interroga este cidadão nascido no concelho de Moimenta da Beira, há 74 anos.
“A banca nunca ganhou tanto dinheiro. Diz-se que estão a ter lucros diários de 11 milhões de euros”, prossegue Alfredo Pinto, referindo-se ao lucro dos grandes bancos, na primeira metade do ano. Números que também foram avançados pelo Sindicato dos Trabalhadores das Empresas do Grupo CGD, tendo a Caixa Geral de Depósitos sido a instituição bancária que mais saiu a ganhar, como mencionou o Diário de Notícias.
“A minha filha acedeu a um crédito da CGD e pagava 198 euros mensais. Hoje, está a pagar quase o dobro – cerca de 330 euros –, com a política do Banco Central Europeu. É impossível viver assim! Sobretudo, quando os salários não têm aumentado proporcionalmente ao custo de vida”, denuncia o nosso entrevistado, salientando: “O sistema capitalista arranja esquemas para empobrecer o povo. E não é só em Portugal. É no Mundo inteiro, estando os trabalhadores – verdadeiramente, quem cria a riqueza – a viver muito pior.”
“Sou contra as guerras, sejam elas na Ucrânia, em África, na Palestina, no Iémen (na Península da Arábia) ou noutras partes do globo. Há muitas guerras e interessam aos grandes senhores. Uma das maiores indústrias norte-americanas é a de armamento e de material bélico. Há muita gente a viver à custa das políticas armamentísticas!”, acusa Alfredo Pinto – desviando-se, aparentemente, do assunto da nossa conversa –, afirmando irritar-se com “os comentadores especializados e universitários, entre outros, que defendem a tese da guerra, em vez de procurarem caminhos de paz”.
Retomando a problemática da carestia dos combustíveis, este automobilista apela ao Governo para que estabeleça ou que controle os preços, além de “dever taxar os lucros excessivos das grandes empresas, como as petrolíferas e as operadoras de telecomunicações”, a exemplo do que pretende fazer a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, apesar de não perfilhar as suas posições políticas, conservadoras de direita.
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17/08/2023