O regresso do Fantasporto na edição 2024
O evento cinematográfico Fantasporto (Festival Internacional de Cinema do Porto), de renome mundial, esteve, novamente, presente no Batalha Centro de Cinema, de 1 a 10 de Março. Foram mais de cem filmes provenientes de 34 países. E o festival, nesta edição (Fantasporto 2024), mostrou ser uma experiência verdadeiramente internacional, apresentando estreias mundiais. O respectivo programa, da responsabilidade da organização, manteve, como sempre, as grandes linhas orientadoras e históricas deste festival.
Do aludido programa destacámos, no âmbito do “Cinema Fantástico”, uma selecção de 30 longas-metragens que mergulham no mundo da fantasia e da ficção científica. Na secção de “Curtas-Metragens”, verificámos uma oportunidade para os cineastas exibirem o seu talento em formatos mais curtos e concisos, na “Semana dos Realizadores”, destinada a destacar o trabalho de realizadores emergentes e estabelecidos. Por outro lado, na secção “Orient Express”, observámos tratar-se de uma jornada cinematográfica pela Ásia, exibindo filmes asiáticos de destaque. Em relação ao Prémio de Cinema Português, salientamos que constitui uma competição dedicada a celebrar o melhor do cinema português.
Com destaque especial, na noite de abertura do Fantasporto 2024, registámos a estreia do filme “Testament”, sucesso de Cannes, dirigido por Denys Arcand. E na sua noite de encerramento, o festival despediu-se com a exibição de “Creation of the Gods I: Kingdom of Storms”, uma empolgante superprodução chinesa realizada por Wuershan.
E ainda as retrospectivas com homenagens a renomados cineastas como Karim Quejad, que, na opinião de Mário Dorminsky “é o realizador belga que reinventou o cinema de género na Europa”, bem como uma variedade de retrospectivas dedicadas a diferentes países e géneros cinematográficos.
No contexto da programação especial, além das competições principais e dos destaques especiais, o Fantasporto 2024 também ofereceu uma série de eventos e de actividades adicionais, incluindo workshops, mesas-redondas e sessões de autógrafos com cineastas e elencos. Sublinhamos a presença das escolas de Cinema em Portugal, já que este evento se transforma numa excelente plataforma para dar a conhecer os novos realizadores saídos das nossas escolas, pelo que assinalamos o Curso Superior de Cinema da Escola Superior Artística do Porto (ESAP) – curso com mais de 40 anos de história no Porto, “cidade berço” do cinema português.
O Festival de Cinema do Porto é um dos três grandes eventos portuenses, juntamente com o FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica) e o FIMP (Festival Internacional de Marionetas do Porto).
Não posso silenciar o facto de que o Porto perdeu, para outras localidades, festivais como o “FAZER A FESTA1 – Festival Internacional de Teatro para a Infância e Juventude”, organizado pelo Teatro Art’Imagem (felizmente, sediado na cidade da Maia), e o Festival Intercéltico do Porto, que nos unia à Galiza e às culturas celtibéricas, entre outras. Este festival teve a sua primeira edição em 1986 e a última em 2008.
Como sempre nas proximidades (mais dia, menos dia) do Carnaval, o Fantasporto foi, para mim, um feliz encontro com Beatriz Pacheco Pereira e Mário Dorminsky, numa espécie de orgia ou de banquete de cinema fantástico, nunca esquecendo o amigo e colaborador plástico de alguns dos meus espectáculos, que foi o José Manuel Pereira. Neste ano, por motivos de trabalho, não pude assistir ao convite que sempre me foi endereçado.
A propósito, Victor Melo, numa das suas crónicas (em “Crónicas das Madrugada”, publicadas no jornal O Primeiro de Janeiro), recorda os primeiros “Fantas”, evocando a ida a Sitges2, em Outubro de 1980, e a descoberta do festival de cinema (Festival Internacional de Cinema Fantàstic de Catalunya) nessa cidade: “[…] Conversas com críticos de cinema, como o francês Gerard Lenne ou o belga Gilbert Verchotten, alargaram o espectro do cinema fantástico nas suas mentes, incutindo-lhes o seu lado não visceral. Dois meses depois, de regresso ao Porto, reuniram no Café Luso, ‘café de artistas e prostitutas na altura, a cinquenta metros daquela que foi muitos anos a catedral de cinema do Porto, o cinema Carlos Alberto’, evoca Beatriz Pacheco Pereira”.
Na mesma peça jornalística, publicada em 2007, Victor Melo, prossegue: “Na mesa estava também o falecido pintor José Manuel Pereira. António Reis (membro da trilogia directiva do Fantasporto) só não estava presente ‘porque naquele preciso momento estava a dar aulas no Alentejo”, recorda Dorminsky’.”
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Notas:
1 – O “Fazer a Festa – Festival Internacional de Teatro” completou 40 edições, em 2021, realizadas anualmente. Ao longo dos anos, este Festival, o terceiro mais antigo de Portugal, já utilizou vários espaços da cidade, como o Teatro–Estúdio de Massarelos, o Teatro Nacional São João, o Teatro Municipal do Rivoli e o Auditório Nacional Carlos Alberto, bem como outras salas de teatro, largos, jardins e ruas da cidade. Nos últimos anos, o Festival tem decorrido numa Aldeia Teatral montada nos Jardins do Palácio de Cristal e no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett. Apresenta 30 companhias profissionais em 60 representações, durante 10 dias. Entretanto, desde há alguns anos, tem sido realizado na Quinta da Caverneira, na cidade da Maia.
2 – O Festival de Cinema de Sitges é um dos mais importantes festivais internacionais, especializando-se em filmes de terror e fantasia. Criado em 1968, o festival acontece normalmente, em cada ano, no início de Outubro, na estância costeira de Sitges, a 34 quilómetros da cidade de Barcelona.
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04/04/2024