O sentido do olfacto é o nosso sistema de alerta mais rápido

 O sentido do olfacto é o nosso sistema de alerta mais rápido

(Créditos: wikiHow)

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O leitor recordar-se-á da reacção que teve quando cheirou um odor desagradável! A capacidade de detectar e de reagir ao cheiro de uma potencial ameaça é uma condição prévia para a sobrevivência da nossa espécie e de outros mamíferos.

Utilizando uma técnica inovadora, os investigadores do Instituto Karolinska, na Suécia, puderam estudar o que acontece no cérebro quando o sistema nervoso central julga que um cheiro representa perigo. Esse estudo, entretanto publicado na revista PNAS, indica que os odores negativos associados a situações desagradáveis ou a mal-estar são processados mais cedo do que os odores positivos e desencadeiam uma resposta física evasiva.

“A resposta humana de evitar cheiros desagradáveis associados ao perigo há muito que é vista como um processo cognitivo consciente, mas o nosso estudo mostra pela primeira vez que é inconsciente e extremamente rápido”, diz o primeiro autor do estudo, Behzad Iravani, investigador do Departamento de Neurociência Clínica do Instituto Karolinska.

(Direitos reservados)

O órgão olfactivo ocupa cerca de cinco por cento do cérebro humano e permite-nos distinguir muitos milhões de cheiros diferentes. Uma grande proporção destes cheiros está associada a uma ameaça à nossa saúde e sobrevivência, tal como a dos produtos químicos e a dos alimentos podres. Os sinais de odor chegam ao cérebro no tempo de 100 a 150 milissegundos (ms), após serem inalados através do nariz.

A sobrevivência de todos os organismos vivos depende da sua capacidade de evitar o perigo e de procurar recompensas. No ser humano, o sentido olfactivo parece particularmente importante para detectar e reagir a estímulos potencialmente nocivos.

Há muito que os mecanismos neurais envolvidos na conversão de um odor desagradável em comportamento evasivo nos seres humanos constituem um mistério. Uma razão para tal é a falta de métodos não invasivos de medição dos sinais do bolbo olfactivo, a primeira parte do rinencéfalo (literalmente “cérebro nasal”), com ligações directas (monossinápticas) às partes centrais importantes do sistema nervoso que nos ajudam a detectar e a recordar situações e substâncias ameaçadoras e perigosas.

Investigadores Behzad Iravani e Johan Lundström. (© News – Karolinska Instituted)

Os investigadores do Instituto Karolinska desenvolveram, recentemente, um método que tornou possível medir sinais do bolbo olfactivo humano, o qual processa os odores e que, por sua vez, pode transmitir sinais a partes do cérebro que controlam o movimento e evitam comportamentos.

Os seus resultados baseiam-se em três ensaios ou provas em que os participantes foram convidados a classificar a sua experiência com seis cheiros diferentes, alguns positivos, outros negativos, enquanto a actividade electrofisiológica do bolbo olfactivo, ao responder a cada um dos cheiros, era medida.

“Ficou claro que o bolbo reage específica e rapidamente a odores negativos e envia um sinal directo para o córtex motor dentro de cerca de 300 ms”, afirma o último autor do estudo, Johan Lundström, que é professor associado no Departamento de Neurociência Clínica do Instituto Karolinska. “O sinal faz com que a pessoa se incline inconscientemente para trás e se afaste da fonte do cheiro”, observa.

Os resultados sugerem que o sentido do olfacto é importante para a capacidade de detectarmos perigos na nossa vizinhança, e muito desta capacidade é mais inconsciente do que a nossa resposta ao perigo mediada pelos sentidos da visão e da audição.

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(*) Artigo publicado no âmbito do programa “Cultura, Ciência e Tecnologia na Imprensa”, promovido pela Associação Portuguesa de Imprensa.

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16/06/2022

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António Piedade

Bioquímico e comunicador de Ciência. Publicou centenas de artigos e crónicas de divulgação científica na imprensa portuguesa e 20 artigos em revistas científicas internacionais. É autor de diversos livros de divulgação de Ciência, entre os quais se destacam “Íris Científica” (Mar da Palavra, 2005 – Plano Nacional de Leitura), ”Caminhos de Ciência”, com prefácio de Carlos Fiolhais (Imprensa da Universidade de Coimbra, 2011) e “Diálogos com Ciência” (Trinta Por Uma Linha, 2019 – Plano Nacional de Leitura), também prefaciado por Carlos Fiolhais. Organiza regularmente ciclos de palestras de divulgação científica, a exemplo do já muito popular “Ciência às Seis”, no Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra. Profere regularmente palestras de divulgação científica em escolas e outras instituições.

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