O último dia da PIDE do Porto contado pelo último preso
Jorge Carvalho, também conhecido por “Pisco”, foi o último preso político a ser libertado da cadeia da PIDE/DGS1, no Porto. Tal só aconteceu na tarde do dia 26 de Abril de 1974. Os militares do MFA2 abriram a porta da cela e conduziram-no à varanda do edifício para que falasse à multidão, que ali se concentrara. Mas o então jovem militante antifascista não o conseguiu fazer, tanta era a emoção. Apenas saudou a liberdade de punho erguido.
Foi Virgínia Moura3 (1915-1998), histórica militante comunista, que anunciou que “Pisco” sairia do presídio numa “chaimite” e rumaria ao Quartel-General, na Praça da República, sendo depois libertado. Assim sucedeu, de facto. Ao fim da tarde desse dia, Jorge Carvalho chegou à sua casa, em Matosinhos, onde recebeu o afago de familiares e de amigos.
Militante do Partido Comunista Português (PCP) – pertencia à combativa célula matosinhense –, o antifascista “Pisco” foi preso várias vezes e torturado, mas nunca falou. Testemunhou a espectacular fuga de Jorge Araújo (1936-2023) pela clarabóia do edifício da PIDE. Cinquenta anos depois do primeiro dia do resto da sua vida, continua a explicar aos mais novos o que era a PIDE e como foi o seu último dia no cárcere.
Eis Jorge Carvalho, na primeira pessoa: https://vimeo.com/411904501
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Notas da Redacção:
1 –A Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), depois de 1969 e até à Revolução de 25 de Abril de 1974, passou a intitular-se Direcção-Geral de Segurança (DGS).
2 – Para simplificar, recorremos à Wikipédia, que nos esclarece de forma breve: “O Movimento das Forças Armadas (MFA) foi um movimento militar, responsável pela Revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal, que pôs fim aos 41 anos de ditadura do Estado Novo4. A principal motivação deste grupo de militares, que era então chamado Movimento dos Capitães, era a oposição ao regime e à Guerra Colonial Portuguesa.”
3 – Acerca de Virgínia Moura, sugerimos a (re)leitura do artigo “Três mulheres exemplares”, também da autoria de Soares Novais, publicado na edição de 20/07/2023 do sinalAberto.
4 – Recorda, ainda, a Wikipédia que a Ditadura Nacional (1926–1933) e o Estado Novo de António de Oliveira Salazar e de Marcello Caetano (1933–1974) foram, conjuntamente, o mais longo regime autoritário na Europa Ocidental durante o século XX, estendendo-se por um período de 48 anos.
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25/04/2024