O último dia da PIDE do Porto contado pelo último preso

 O último dia da PIDE do Porto contado pelo último preso

Jorge Carvalho, “Pisco”. (Créditos fotográficos: Manuel Roberto / “Porto Olhos nos Olhos” – facebook.com)

Jorge Carvalho, também conhecido por “Pisco”, foi o último preso político a ser libertado da cadeia da PIDE/DGS1, no Porto. Tal só aconteceu na tarde do dia 26 de Abril de 1974. Os militares do MFA2 abriram a porta da cela e conduziram-no à varanda do edifício para que falasse à multidão, que ali se concentrara. Mas o então jovem militante antifascista não o conseguiu fazer, tanta era a emoção. Apenas saudou a liberdade de punho erguido.

A libertação dos últimos presos políticos da PIDE no Porto. Fotografias cedidas à União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) por Alfredo Vieira, um dos presos políticos libertados a 26 de Abril de 1974. (Créditos fotográficos: Direitos reservados – agenda-porto.pt)

Foi Virgínia Moura3 (1915-1998), histórica militante comunista, que anunciou que “Pisco” sairia do presídio numa “chaimite” e rumaria ao Quartel-General, na Praça da República, sendo depois libertado. Assim sucedeu, de facto. Ao fim da tarde desse dia, Jorge Carvalho chegou à sua casa, em Matosinhos, onde recebeu o afago de familiares e de amigos.

Jorge Carvalho, com o jornalista e escritor José Viale Moutinho e também com a escritora Manuela Espírito Santo, elemento da Direcção da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto. (ajhlp.pt)

Militante do Partido Comunista Português (PCP) – pertencia à combativa célula matosinhense –, o antifascista “Pisco” foi preso várias vezes e torturado, mas nunca falou. Testemunhou a espectacular fuga de Jorge Araújo (1936-2023) pela clarabóia do edifício da PIDE. Cinquenta anos depois do primeiro dia do resto da sua vida, continua a explicar aos mais novos o que era a PIDE e como foi o seu último dia no cárcere.

Eis Jorge Carvalho, na primeira pessoa: https://vimeo.com/411904501

Museu da Vergonha – Testemunho de “Pisco”, o último preso político a sair da PIDE do Porto.

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Notas da Redacção:

1 –A Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), depois de 1969 e até à Revolução de 25 de Abril de 1974, passou a intitular-se Direcção-Geral de Segurança (DGS).

2 – Para simplificar, recorremos à Wikipédia, que nos esclarece de forma breve: “O Movimento das Forças Armadas (MFA) foi um movimento militar, responsável pela Revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal, que pôs fim aos 41 anos de ditadura do Estado Novo4. A principal motivação deste grupo de militares, que era então chamado Movimento dos Capitães, era a oposição ao regime e à Guerra Colonial Portuguesa.”

No dia 28 de Maio de 1926, ocorreu um golpe militar, iniciado na cidade de Braga, liderado pelo general Gomes da Costa, que instaurou uma Ditadura Militar, em Portugal. Neste mesmo ano, no mês de Junho, António de Oliveira Salazar, professor de Finanças e Economia Política, na Faculdade de Direito de Coimbra, foi convidado para desempenhar o cargo de ministro das Finanças. António Salazar aceitou o convite, mas demitiu-se, quinze dias depois. (transicaopolitica.pt)

3 – Acerca de Virgínia Moura, sugerimos a (re)leitura do artigo “Três mulheres exemplares”, também da autoria de Soares Novais, publicado na edição de 20/07/2023 do sinalAberto.

4 – Recorda, ainda, a Wikipédia que a Ditadura Nacional (1926–1933) e o Estado Novo de António de Oliveira Salazar e de Marcello Caetano (1933–1974) foram, conjuntamente, o mais longo regime autoritário na Europa Ocidental durante o século XX, estendendo-se por um período de 48 anos.

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25/04/2024

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Soares Novais

Porto (1954). Jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. “Diário de Notícias”, “Portugal Hoje”, “Record”, “Tal & Qual” e “Jornal de Notícias” (JN) são algumas das publicações onde exerceu o seu ofício [Fonte: “Quem é Quem no Jornalismo”, obra editada pelo Clube de Jornalistas, em 1992]. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi delegado sindical e dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) [no biénio de 1996/97, sendo a Direcção do SJ presidida por Diana Andringa], da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) e membro do Conselho de Redacção do JN, do qual foi editor-adjunto do “Gabinete de Reportagem” e do “Desporto”. É autor do romance “Português Suave – Cuidado com cão” [1.ª edição “Euroedições”, em 1990; 2.ª edição “Arca das Letras”, em 2004], do livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”, da peça de teatro “E Tudo o Espírito Santo Levou” e da obra para a infância “A Família da Gata Pintinhas”. É um dos autores portugueses com obra publicada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Actualmente, integra a Redacção do jornal digital “sinalAberto”.

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