Obrigado, “Óscar”!

 Obrigado, “Óscar”!

Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho nasceu a 31 de agosto de 1936, na então cidade de Lourenço Marques (actual Maputo), capital de Moçambique, e teve uma carreira militar desde os anos 1960. Fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde encontrou o general António de Spínola, com o qual manteve contactos até ao pós-25 de Abril de 1974. (record.pt)

Otelo Saraiva de Carvalho deixou-nos há dois anos. A 25 de Julho de 2021. Devemos-lhe a mais bela de todas as madrugadas. E a Liberdade que a maré alta fez passar por aqui1. Tal qual assinala Sérgio Godinho.

“Óscar” e os capitães de Abril transformaram em realidade o sonho pelo qual muitos lutaram e morreram. (record.pt)

Devemos-lhe isso. A ele e a todos os militares de Abril, que liderou a partir do posto de comando da Pontinha2. “Óscar”3 e os capitães de Abril transformaram em realidade o sonho pelo qual muitos lutaram e morreram, em Cabo Verde, no Campo de Concentração do Tarrafal, no “Aljube”, no Forte de Caxias e em Peniche. E que, sobretudo na “António Maria Cardoso”4, foram sujeitos às maiores humilhações e sevícias por parte dos “pides”.

Lembrar, hoje, Otelo e todos aqueles militares que participaram na Revolução dos Cravos, é um acto de gratidão. E é, também, um compromisso renovado com o Futuro, um compromisso renovado com Abril. Mais necessário do que nunca.

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Notas:

1 – “Que a liberdade está a passar por aqui”, verso do refrão da canção “Maré Alta”, da autoria de Fausto Bordalo Dias, de José Mário Branco e de Sérgio Godinho, interpretada por este, no seu álbum de estreia “Os Sobreviventes”, gravado num estúdio em França, no final de Abril de 1971.

O coronel de artilharia que elaborou o
plano de operações militares do 25 de Abril
de 1974, Otelo Saraiva de Carvalho, morreu,
aos 84 anos, no Hospital Militar. Esta foto
de “Óscar” foi captada em 1976.
(pt.wikipedia.org)

2 – Foi nas instalações do Quartel da Pontinha que, entre 24 e 26 de abril de 1974, estiveram reunidos os oficiais que comandaram todas as operações da Revolução do 25 de Abril. Em 2001, o Município de Odivelas, em colaboração com o Regimento de Engenharia N.º 1 (na Pontinha), inaugurou o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas (MFA). A sala de operações foi mantida tal como estava por ocasião do 25 de Abril de 1974. Classificado como Monumento Nacional, em Outubro de 2015, o Posto de Comando do MFA é, actualmente, um importante pólo de preservação da nossa memória colectiva.

3 – “Óscar” foi o nome de código adoptado por Otelo Saraiva de Carvalho no comando das operações militares.

4 – As instalações da sede da extinta Polícia Internacional e de Defesa do Estado/Direcção-Geral de Segurança (PIDE/DGS) localizavam-se na Rua António Maria Cardoso.

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27/07/2023

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Soares Novais

Porto (1954). Jornalista. Tem prosa espalhada por jornais, livros e revistas. “Diário de Notícias”, “Portugal Hoje”, “Record”, “Tal & Qual” e “Jornal de Notícias” (JN) são algumas das publicações onde exerceu o seu ofício [Fonte: “Quem é Quem no Jornalismo”, obra editada pelo Clube de Jornalistas, em 1992]. Assinou e deu voz a crónicas de rádio. Foi delegado sindical e dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) [no biénio de 1996/97, sendo a Direcção do SJ presidida por Diana Andringa], da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) e membro do Conselho de Redacção do JN, do qual foi editor-adjunto do “Gabinete de Reportagem” e do “Desporto”. É autor do romance “Português Suave – Cuidado com cão” [1.ª edição “Euroedições”, em 1990; 2.ª edição “Arca das Letras”, em 2004], do livro de crónicas “O Terceiro Anel Já Não Chora Por Chalana”, da peça de teatro “E Tudo o Espírito Santo Levou” e da obra para a infância “A Família da Gata Pintinhas”. É um dos autores portugueses com obra publicada pela Editora Thesaurus, de Brasília. Actualmente, integra a Redacção do jornal digital “sinalAberto”.

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