Os poetas não morrem

 Os poetas não morrem

Natália Correia (elfikurten.com.br)

No dia 13 de Setembro de 1923, nasceu, na Fajã de Baixo, na ilha de São Miguel, uma menina a que os pais, em redundância, chamaram Natália. Ela trazia, em si, no mais recôndito da alma, o amor pela Pátria, que continuava para além do mar e que transformava os seus sentimentos na Mátria que não foi e na Frátria que era.

Aos onze anos de idade, a sua vida mudou.

O pai emigrou para o Brasil e ela meteu-se ao mar das descobertas para aportar a Lisboa, no caminho do então Liceu Dona Filipa de Lencastre e dos versos que, a pouco e pouco, foi semeando à sua volta, transformando-a na Natália Correia que vive em nós e que ontem completaria cem anos!

Não são anos demais para um poeta sem tempo.

São os necessários para nos sentirmos apaixonados pelas palavras e pelos conceitos, porque também nós cremos “nos anjos que andam pelo mundo e nos amores lunares com piano ao fundo” e sabemos que Natália abriu as portas da História e deixou passar a vida, com a força telúrica das suas palavras e dos seus actos nem sempre compreendidos, mas que a memória conserva à tona do seu vigor, da sua determinação e do incomensurável amor que ela tinha guardado para quem o merecesse.

Natália Correia retratada por Bottelho. (pt.wikipedia.org)

O seu caminho de luta pela verdade e sem medo das consequências políticas foi como um uivo da terra e a sua afirmação como Ser Humano foi como se o ar tivesse parado à sua volta e o mar emudecesse, como de resto escreveu, sólida, firme, rocha, mulher, poeta.

Morreu para continuar a viver na premonição dos seus versos: “[…] Andar?! Não me custa nada!… / Mas estes passos que dou / Vão alongando uma estrada / Que nem sequer começou.”

(Direitos reservados)

É isso mesmo, Natália. Por isso, completaste ontem cem anos e muitos mais hás-de fazer!

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Nota da Redacção:

Fernando Correia é autor do livro “Natália de Alma Aberta”, publicado em Março de 2006, pela editora Sete Caminhos.

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14/09/2023

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Fernando Correia

Fernando Lopes Adão Correia nasceu em 1935. É jornalista, autor e comentador de rádio e de televisão. Começou na Emissora Nacional, aos 19 anos, e passou pelo Rádio Clube Português, pela RDP, pela TSF-Rádio Jornal, pela TVI, pelo jornal vespertino A Capital, pelo jornal O Diário, pelo Record e pelo Jornal de Notícias, com textos publicados em vários outros jornais e revistas. É autor de 43 títulos, entre os quais se destacam os recentes livros: “E Se Eu Fosse Deus?”, “O Homem Que Não Tinha Idade”, “Piso 3 – Quarto 313”, “Diário de Um Corpo Sem Memória”, “São Lágrimas, Senhor, São lágrimas” e “Um Minuto de Silêncio”. O seu próximo livro (a publicar) chama-se “A Mística do Tempo Novo” e é um ensaio filosófico, de auto-ajuda e acerca da construção do Homem Novo. Dos programas que realizou e apresentou na rádio destacam-se: “Programa da Manhã”, “De Um Dia Para o Outro”, “Falar é Fácil”, “Lugar Cativo” e “Bancada Central”, título que, agora, recupera no jornal sinalAberto. Deu aulas de Ciências da Comunicação e de Sociologia da Comunicação no Instituto Piaget, na Universidade Autónoma de Lisboa (como convidado), no centro de formação Palavras Ditas e na Universidade do Algarve (também como convidado).

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