Os poetas não morrem
No dia 13 de Setembro de 1923, nasceu, na Fajã de Baixo, na ilha de São Miguel, uma menina a que os pais, em redundância, chamaram Natália. Ela trazia, em si, no mais recôndito da alma, o amor pela Pátria, que continuava para além do mar e que transformava os seus sentimentos na Mátria que não foi e na Frátria que era.
Aos onze anos de idade, a sua vida mudou.
O pai emigrou para o Brasil e ela meteu-se ao mar das descobertas para aportar a Lisboa, no caminho do então Liceu Dona Filipa de Lencastre e dos versos que, a pouco e pouco, foi semeando à sua volta, transformando-a na Natália Correia que vive em nós e que ontem completaria cem anos!
Não são anos demais para um poeta sem tempo.
São os necessários para nos sentirmos apaixonados pelas palavras e pelos conceitos, porque também nós cremos “nos anjos que andam pelo mundo e nos amores lunares com piano ao fundo” e sabemos que Natália abriu as portas da História e deixou passar a vida, com a força telúrica das suas palavras e dos seus actos nem sempre compreendidos, mas que a memória conserva à tona do seu vigor, da sua determinação e do incomensurável amor que ela tinha guardado para quem o merecesse.
O seu caminho de luta pela verdade e sem medo das consequências políticas foi como um uivo da terra e a sua afirmação como Ser Humano foi como se o ar tivesse parado à sua volta e o mar emudecesse, como de resto escreveu, sólida, firme, rocha, mulher, poeta.
Morreu para continuar a viver na premonição dos seus versos: “[…] Andar?! Não me custa nada!… / Mas estes passos que dou / Vão alongando uma estrada / Que nem sequer começou.”
É isso mesmo, Natália. Por isso, completaste ontem cem anos e muitos mais hás-de fazer!
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Nota da Redacção:
Fernando Correia é autor do livro “Natália de Alma Aberta”, publicado em Março de 2006, pela editora Sete Caminhos.
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14/09/2023