Pagar as favas
“Pagar as favas” tem, geralmente, o significado de “ser castigado por um erro que não cometeu”, de “ser punido pelo erro de um indivíduo não identificado” ou de “suportar o prejuízo ou a responsabilidade sobre algo de que é alheio”.
Conta a tradição que durante séculos se celebrou, em Odivelas, uma grande festa em honra do Senhor Santo Cristo. Só que, no século XVIII, a imagem desapareceu e continua sem aparecer até hoje. Mas, mesmo perante a ausência da imagem, o povo de Odivelas manteve as festividades passando a celebrar o “Senhor Roubado”.
O povo, no entanto, não desistiu de procurar a estátua do santo. A dada altura, correu o boato de que a estátua estaria enterrada num campo de favas. Os crentes, em massa, dirigiram-se para o faval e, contra a vontade do proprietário, revolveram toda a plantação de favas. Não encontraram o objecto da sua devoção e, à laia de desculpa, disseram ao agricultor que estava com sorte, porque a terra tinha sido toda revolta gratuitamente e que, assim, não precisava de a voltar a revolver o terreno para iniciar nova sementeira. O agricultor ficou boquiaberto com tanto descaramento e exclamou: “Quem paga as favas?”
A resposta é clara. Quem pagou as favas, ou seja, os prejuízos pelos estragos causados pelo povo, na demanda da imagem do santo, foi o próprio agricultor, totalmente alheio à destruição do seu faval.
Na verdade, a expressão aplica-se a alguém que tem de “pagar o que outros fizeram” ou que sofre as consequências do que foi feito por outros.
Na literatura relacionada com estes assuntos, Alberto Bessa, no seu livro “A Gíria Portugueza” (sic), editado em 1901 (com prefácio de Teófilo Braga), dava como exemplo para esta expressão: “O Jorge foi quem comeu as uvas e eu é que pago as favas.”
03/11/2022