Palavras escritas

 Palavras escritas

(Créditos: Luís Morais)

Este é um texto sobre tudo o que não pode ser dito. Ainda há, assim, verdade e realidade nestas palavras. Que podem, ora estão a ser escritas. Só não convém serem ‘pronunciadas’.

Por experiência comum, normalmente estes textos são sobre verdades muito prementes. Mas escrevê-los não sacia, nem alivia. Ainda que ditada por quem a escreve, a palavra nesta forma é como ter apenas um só gole de um copo cheio de água ou uma breve inspiração de uma garrafa de oxigénio que rapidamente se fecha…

E aqui está-se tão longe de falhar na missão de fazer compreender alguém as palavras que tanto se ama… Isso é o sonho privilegiado de quem pode ‘falar’ as palavras que escreve. Exibir o pensamento por todas linhas e, por fim, rir-se de como foram lidas, respondendo cordialmente que a interpretação é da liberdade do leitor mas sabendo-se dono e único senhor da verdade que ‘pronunciou’ nas palavras que disse.

Quando se vive na realidade das palavras, espera-se apenas roçar o pensamento ou sentimento; se possível, torná-lo identificável. Mas nunca, jamais, chegar ao seu âmago. Desta forma, respeita-se tanto o poder da palavra como o da Humanidade e não se arrisca a Alma. Ou das palavras, ou de quem escreve.

E é por isso que às vezes parece – oh, a estupidez! – que não vale a pena escrever. Com sede e um copo cheio, bebe-se apenas um gole? Com o peito apertado e apenas uma oportunidade para respirar, é agora? Com a Alma nas palavras, se não se puder ‘dizer’… Escreve-se, ainda?

Estes textos sobre o que não pode ser dito resultam muitas vezes – nem sempre, vá! – de sentimentos muito profundos, mas extremamente honestos e puramente verdadeiros. São como pequenos animais, que habitam em nós, que domesticámos, que aprenderam a ser calados… Mas têm sempre voz quando escrevemos. É como um ressentimento, que escondemos com as palavras e ações que estudámos e pensámos para sermos melhores. Mas ecoa em cada atitude.

Oh e perpetua-se em cada palavra escrita…

Que terror. Esta palavra escrita, não há vento que a leve. Não há nova polémica que a cale. Não há transformação ou crescimento humano que a faça renascer…

E, por isso, este medo de escrever o que realmente se quer dizer.

Mas, sim. Vale a pena apenas um gole de água. Vale a pena inspirar apenas uma vez mais.

Se isso permitir mais uma única palavra que seja… Mesmo que não possa ser ‘dita’

Que seja escrita.

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Patrícia Troca

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