Para ler enquanto toma um cafezinho com Rui Moreira
Pergunta-me: “Gostas dos Garotin?” Nunca tinha ouvido falar. Quem são? Puxa do seu telemóvel e apresenta-me os três blacks. Recomenda. Escuto agora, enquanto vasculho as anotações da conversa. Rui é um sujeito gigante. E não me refiro somente aos seus palmos de altura. Avisa-me, entre risos, que tem tendência a ser prolixo, e que eu haveria de ter um trabalhão em sucintar. Bom, de modo algum. É um gosto.
Rui Moreira veio ao mundo em 1963, em São Paulo, no Brasil, e é um renomado profissional de dança brasileira com mais de 40 anos de experiência. Atualmente, ocupa o cargo de diretor da DACEN – Diretoria de Artes Cênicas Funarte/MINC. É sobre isso que conversarmos.
Para quem ouve de primeira, a Funarte (Fundação Nacional de Artes) é uma instituição brasileira vinculada ao Ministério da Cultura (MINC), criada para fomentar e promover as artes no país. As suas principais atividades incluem o apoio à produção artística nas áreas de teatro, dança, música, circo e artes visuais, por meio de programas de incentivo, concessão de prémios, organização de festivais e eventos culturais, além de ações de capacitação e formação artística. A Funarte também gerencia espaços culturais e desenvolve políticas culturais para ampliar o acesso à arte e incentivar a diversidade cultural no Brasil.
Há um contentamento visível nas primeiras palavras de Rui: “Acho muito bom destacar este momento que está ocorrendo no Brasil. Estamos vivenciando uma verdadeira retomada das conquistas dos últimos 30 anos, tentando desenvolver um trabalho que traduza e reflita o corpus social brasileiro, que é maioritariamente composto por pessoas negras. As instituições ainda não refletem plenamente os interesses dessas populações. A retomada do Lula trouxe a possibilidade de uma governação mais comprometida com a distribuição de poder.”
O Ministério da Cultura, extinto no mandato anterior, retorna sob a liderança de Margareth Menezes, uma mulher negra nordestina, artista multifacetada. Por sua vez, a Funarte é destinada a uma outra mulher negra, Maria Marighella. Rui Moreira faz uma dupla estreia: é a primeira vez que um homem negro ocupa o cargo que ele ocupa, e é a primeira vez que um artista da dança o faz.
Os desafios são múltiplos. Mas “o compromisso desta nova gestão é operar com marcos legais, criando assim uma base institucional sólida para o futuro”. “Embora existam memórias e convênios, é necessário estruturar um caminho institucional para facilitar a perenidade, estabelecendo plataformas de artes e fluxos contínuos de subvenções financeiras duradouras, firmando acordos com institutos que geram dados. A gestão atual também se compromete com políticas específicas para as artes, reconhecendo o seu valor na disputa por recursos políticos e vislumbrando dias melhores. Além disso, há uma escuta ativa da sociedade civil, que traz demandas sobre formação e infraestrutura, identificando valores e potencialidades de cada linguagem artística”, afirma Rui Moreira.
Este é o traço distintivo desta nova gestão: “Preparar a instituição para o futuro sem ignorar as urgências do presente.”
O presente conspira novas formas de futuro. “A Funarte pretende criar diretorias distintas, desmembrando a Diretoria de Artes Cênicas em diretorias específicas para circo, dança e teatro, ampliando a destinação orçamentária e organizando de maneira mais específica conforme cada setor necessita”, prossegue Rui Moreira.
São ventos de mudança. As artes no Brasil, tão celebradas mundialmente, precisam “fazê-lo do ponto de vista administrativo e longevo”.
Ele sorri. Eu sorrio junto.
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06/06/2024