“Planeta de Água”
Houve quem chamasse à Terra o Planeta de Água. Vejamos porquê.
Pela distância a que se encontra o Sol, a superfície do nosso planeta caracteriza-se por um intervalo de temperaturas que permite a presença de água nos seus três estados físicos, sólido, líquido e gasoso, sendo o estado líquido o de mais vasta representação e que maior influência teve e tem nos processos geológicos e biológicos ocorrentes à superfície.
A vida nasceu na água, líquido essencial à composição e fisiologia das plantas e animais. Grande parte do corpo dos seres vivos é água. A água é, igualmente, essencial à alteração das rochas e à formação dos solos, bem como à erosão e à deposição de sedimentos e subsequente transformação em rochas sedimentares. Mas o papel da água não se confina aos processos superficiais. Está ainda presente no metamorfismo e no magmatismo, que são dois processos geodinâmicos internos geradores de rochas. Há água sob a forma de gelo nas regiões polares e em alta montanha e, também, na maioria dos cometas e em alguns corpos planetários do Sistema Solar, onde as temperaturas, à superfície, são inferiores a -150ºC, como acontece em Ganímedes, satélite de Júpiter, cuja crosta é formada por gelo. Há, ainda, água em moléculas disseminadas no espaço interestelar.
Sobre a Terra, as primeiras águas no estado líquido terão surgido no decurso da diferenciação do planeta, em fase inicial da sua história, por condensação de uma atmosfera primitiva, rica em vapor de água, a que se terá juntado, segundo algumas opiniões abalizadas, muita água transportada por asteróides e cometas, em constantes e abundantes colisões com o nosso planeta, numa actividade considerada muito intensa nesses recuados tempos. Teria bastado o abaixamento da temperatura à superfície, para valores inferiores a 374ºC, e uma diminuição da pressão atmosférica, para níveis na ordem dos 217 bares, para que o vapor de água condensasse e começasse a preencher as áreas mais deprimidas do planeta de então, originando as primeiras bacias isoladas que puderam crescer em profundidade e em extensão, acabando por coalescer em um ou mais oceanos primitivos, cujas águas, ácidas, devido à presença de dióxido de carbono em solução, rondariam os 30 a 60ºC.
Há quem chame à Terra o Planeta de Água. Com cerca de 71% da superfície coberta por este líquido, o globo terrestre, se reduzido a uma esfera, estaria envolvido por uma camada contínua de água, com cerca de 2,5 quilómetros de espessura. A hidrosfera, conceito abstracto usado para referir uma entidade não contínua, é essencialmente constituída pela água dos oceanos (que perfazem cerca de 98%), dos rios e dos lagos, pelas neves e gelos polares e de alta montanha e, ainda, pelas águas subterrâneas (aquíferos).
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Nota da Redacção:
Este artigo de opinião de António Marcos Galopim de Carvalho (professor catedrático jubilado da Universidade de Lisboa) reitera e complementa parte de um outro seu texto com o título “Tanta água…”, publicado na edição de 23/06/2022 do sinalAberto.
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08/04/2024