Pôr a mão no fogo
A Inquisição foi de tal maneira marcante em Portugal que, ainda hoje, perdura no imaginário dos portugueses através de várias expressões populares. Poucos são aqueles que não conhecem ou que não utilizam as expressões “pôr a mão no fogo”, “jurar a pés juntos”, “enfiar a carapuça” e “andar com o credo na boca”.
A Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício surgiu na Idade Média. Criada em França, no século XII, mas oficializada pelo papa Gregório IX, no século XIII, destinava-se a combater a heresia, a blasfémia, a bruxaria e outros costumes desviantes.
Em Dezembro de 1531, o papa Clemente VII publicou a bula que deu origem à implantação do Santo Ofício em Portugal. No entanto, só anos mais tarde ela foi, de facto, instaurada no território nacional. O primeiro auto-de-fé no país ocorreu em 1541, no reinado de D. João III.
Para obter as confissões dos suspeitos, a Inquisição usava métodos diferentes, desde a simples ameaça até à violência; e, frequentemente, a tortura.
Mas voltemos à expressão “pôr as mãos no fogo”. Significa que se acredita cegamente em algo ou em alguém, que se atesta a idoneidade de uma pessoa.
Durante a Inquisição, os acusados tinham de provar a sua inocência. Por vezes, a referida inocência tinha de ser provada pela intervenção divina. Uma das formas de provar a própria inocência consistia em o acusado segurar uma barra de ferro em brasa e caminhar alguns passos diante dos juízes e das testemunhas.
Em seguida, a mão era enfaixada num tecido embebido em cera, durante três dias. Após este prazo, retirava-se as ligaduras. Se a mão estivesse ilesa, sem sinais de queimaduras, significava que era inocente. Caso contrário, era declarado culpado, uma vez que não tinha merecido a intervenção nem a protecção divina.
02/06/2022