“Raisparta o 13!”
Até aos finais dos anos 80 do século XX, a “baixa” do Porto era povoada de ardinas, de engraxadores, de vendedores de gravatas e de cauteleiros. Sobretudo, na Praça da Liberdade, na Rua de Sampaio Bruno e na Rua de Sá da Bandeira.
Os cauteleiros faziam aquela via-sacra, várias vezes ao dia, animando as ruas com os seus pregões. Um deles vendia o “13” e o “69”, como números fixos. E anunciava-os assim:
– Olha o 13, raisparta o 13!
– Olha o 69, o badalhoco!
Já com um bom par de anos em cima das costas e meão de altura, o cauteleiro do “13” e do “69” só parava à porta de “A Brasileira”1 para dois dedos de conversa com a Fernanda, a vendedora de jornais mais bonita da cidade.
Foi do cauteleiro do “13” e da Fernanda que me lembrei, numa breve passagem pela “baixa” da cidade, cada vez mais ocupada por hordas de turistas que, logo às primeiras horas da manhã, enchem as mesas das esplanadas com canecas de cerveja e pratos de tremoços…
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Nota:
1 – “A Brasileira” é um símbolo da “Invicta”. O edifício foi projectado pelo arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira (1884-1957). Tem um magnifico para-sol de ferro e vidro e o seu interior tem cristais, mármores e mobiliário de couro gravado. O estabelecimento foi fundado por Adriano Soares Teles, que rumou ao Brasil, onde se dedicou ao negócio do café que fez dele um homem rico. “A Brasileira”, que foi poiso de artistas de teatro, de intelectuais, de jornalistas e de fotojornalistas, como Henrique Moreira, anos a fio editor do Jornal de Notícias, entrou em decadência no final dos anos 90, até se tornar propriedade de António Oliveira, antigo futebolista e ex-seleccionador nacional. O edifício foi reabilitado e reabriu em 2018 como hotel do Grupo Pestana. Acaba de celebrar 120 anos de vida.
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17/07/2023