(Re)Tratos de Ser

 (Re)Tratos de Ser

Entre versos e fotografias fomos em busca de autorretratos em tempos de confinamento, com a câmara frontal a pintar o gesto do “eu”.  

“O guerreiro sabe que nenhum homem é uma ilha, isolada no meio do oceano. Sabe que não pode lutar sozinho; seja qual for o seu plano, sempre depende de outras pessoas. Precisa discutir sua estratégia, pedir ajuda, e – nos momentos de descanso – ter alguém para contar histórias de combate ao redor da fogueira. Mas ele não deixa que as pessoas confundam sua camaradagem com insegurança. Ele é transparente em suas ações, e secreto nos seus planos. Um guerreiro da luz dança com seus companheiros, mas não transfere para ninguém a responsabilidade de seus passos.

O guerreiro sabe que nenhum homem é uma ilha, isolada no meio do oceano. Sabe que não pode lutar sozinho; seja qual for o seu plano, sempre depende de outras pessoas.

(…) Um guerreiro da luz dança com seus companheiros, mas não transfere para ninguém a responsabilidade de seus passos”.

Paulo Coelho

Ana Rita

“Mas se esse rosto fingido

Quiséreis representar,

Houveram por bom partido

Dar-vos a alma do sentido

Para a glória do lugar.

Tatiana Cadete

Víreis, posto nessa alteza,

Que em vós não há cousa igual.

E que nem a maior mal

Podeis vir, nem por baixeza,

Que a serdes meu natural.”

Luís Vaz de Camões

“Provinciano que nunca soube

Escolher bem uma gravata;

Pernambucano a quem repugna

A faca do pernambucano;

Poeta ruim que na arte da prosa

Envelheceu na infância da arte,

E até mesmo escrevendo crônicas

Ficou cronista de província;

Arquiteto falhado, músico

Falhado (engoliu um dia

Um piano, mas o teclado

Ficou de fora); sem família,

Religião ou filosofia;

Mal tendo a inquietação de espírito

Que vem do sobrenatural,

E em matéria de profissão

Um tísico profissional.”

Manuel Bandeira

“Espáduas brancas palpitantes:

asas no exílio dum corpo.

Os braços calhas cintilantes

para o comboio da alma.

E os olhos emigrantes

no navio da pálpebra

encalhado em renúncia ou cobardia.

Por vezes fêmea. Por vezes monja.

Conforme a noite. Conforme o dia.”

Natália Correia


Eu não sou eu nem sou o outro,

Sou qualquer coisa de intermédio:

Pilar da ponte de tédio

Que vai de mim para o Outro.

Mário de Sá-Carneiro

“!Eu sou outra em mim mesma

E sou aquela

(…)

Sou o gozo

No gosto de ser espelho

E me faz multiplicar em todo o lado.”

Maria Teresa Horta

Francisca Silva

À medida que o coronavírus se instalava no nosso quotidiano, os rostos passaram a ser pintados por “novos acessórios”. Máscaras e viseiras são hoje os novos adereços de trabalho, de passeio, em comunidade, em nome da proteção de todos – as selfies higienizadas.

“É por detrás do espelho que me vejo,

Numa espécie de quadro negativo.

Sinais fundos e certos de que vivo,

Mas sem a nitidez que todos me atribuem

Desde o começo.

Baça inquietação, ambógua semelhança

Com aquele velho, jovem ou criança

Que pareço.”

Miguel Torga

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Catarina Magalhães

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