Roma não paga a traidores

O assassinato de Viriato. (dariomadrid.com)
A invasão da Península Ibérica pelos Romanos não foi pacífica. As tribos nativas desta região – denominadas, genericamente, por Lusitanos – lutaram arduamente pelas suas terras e, por volta por dos anos 155 a. C., aplicaram ao numeroso e bem organizado exército romano várias e humilhantes derrotas.
Tantos foram os revezes romanos que os Lusitanos, chefiados por Viriato, infligiram aos Romanos, que estes pediram um acordo de paz.
Para negociar a paz, Viriato enviou três emissários que não eram lusitanos. Mas, em vez de negociarem o tratado de paz, o general romano Cipião subornou os três parlamentares prometendo-lhes uma avultada recompensa, se conseguissem assassinar Viriato.
Audax, Ditalcus e Minurus, assim se chamavam os emissários, na expectativa da tão prometida recompensa romana, apunhalaram mortalmente Viriato, enquanto dormia.
Para fugirem à vingança dos Lusitanos, os três traidores dirigiram-se para Roma aonde esperavam receber a sua recompensa pela traição. Mas o prémio que os Romanos lhes ofereceram foi a sua execução em praça pública, onde os seus corpos ficaram expostos, ao lado de um cartaz que dizia: “Roma traditoribus non praemiat.” (“Roma não paga a traidores.”)

Como escreve Narciso Pires, no jornal Mensageiro de Bragança, a “traição sempre foi uma prática repudiada na nossa sociedade”. Dando seguimento ao seu artigo, o mesmo autor refere que “o discípulo Judas Escariotes, a troco de trinta moedas de prata, atraiçoou e vendeu o seu Mestre”. E que, por isso, ao longo de séculos, “Judas sempre foi visto como um traidor e abominado pelo povo cristão”. “O mesmo se diga da delação, ou seja, a denúncia (de um crime) feita na mira de uma recompensa”, observa ainda Narciso Pires.
Também Nuno Guita, num seu artigo de opinião no jornal i, observa que “ninguém gosta de traidores”: “Reza a História, que em 139 a.C., depois de uma longa guerra contra os romanos, Viriato enviou Audax, Ditalcus e Minurus (que não eram Lusitanos) para negociar os termos do tratado de paz. Mas, tendo sido subornados pelos romanos, apunhalaram à traição Viriato enquanto este dormia.” Na sequência do crime, os três emissários dirigiram-se a Roma, onde pretendiam receber a recompensa prometida. “Porém, segundo a mesma história, o general romano Servilius Caepio, em vez de pagar o suborno, ordenou a sua execução na praça pública ficando os corpos expostos com a seguinte inscrição: Roma traditoribus non premiae”, regista o articulista Nuno Guita.

Por sua vez, o escritor, editor e revisor Nacho Otero repara que “Roma não paga [a] traidores” – frase que, em Latim, se lia “Roma traditoribus non praemiat” – é, hoje, “usada como advertência a qualquer pessoa que tenha intenções de cometer traição de que não obterá recompensa por isso” e que “provém de uma tradição popular de origem incerta”.
Diz ainda, a propósito, Nacho Otero: “[…] não aparece nas fontes clássicas, embora o acontecimento histórico tenha sido narrado por alguns cronistas romanos, como Diodoro, Orósio e Ápio. O que mais se aproxima dessa frase é um trecho da crónica deste último, que afirma que o procônsul [Quintus Servilius Caepio] “pagou aos traidores hispânicos, mas recusou-se a satisfazer [as] suas demandas restantes.”
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31/08/2023