Ser dos quatro costados

 Ser dos quatro costados

A rainha Isabel II. (© Victoria Jones/AFP – tsf.pt)

Os títulos de nobreza passavam de pais para filhos, principalmente para os filhos mais velhos. As famílias nobres orgulhavam-se da antiguidade da sua linhagem e menosprezavam a nobreza recentemente adquirida.

Em genealogia existem, basicamente, dois tipos de árvores genealógicas: a árvore de descendentes e a árvore de ascendentes, também chamada de costados. (minhaarvoregenealogica.com.br)

Como afirmação da sua linhagem, do “sangue azul” que lhe corria nas veias, afirmavam que eram nobres dos quatro costados. Isto é, que, pelo menos, tanto os dois avós maternos como os dois paternos já eram nobres. Ou seja, alguém com quatro avós nobres era também nobre “dos quatro costados”. De forma semelhante, é considerado o termo quarterings, em Inglês, bem como “quartiers”, em Francês, ou “ahnentafel”, que corresponde a ”pedigree”, a gráfico de linhagem ou a diagrama genealógico, em Alemão.

Curioso é, na Alemanha, exigirem como atestado de nobreza não quatro, mas dezasseis costados, sendo, assim, a árvore genealógica (também designada “árvore de costados” ou “árvore inversa”, segundo o portal Ciberdúvidas da Língua Portuguesa) estendida até aos bisavós e trisavós.

Exemplo de árvore com 16 costados, de Sigmund Christoph von Waldburg-Zeil-Trauchburg.

O significado da expressão, hoje, já não é tão radical. Actualmente, é mais aplicada como referência à pureza nas origens geográficas e não exige tão aprofundadamente no que respeita à árvore genealógica. São exemplos quotidianos desta expressão idiomática que refere “pureza” na origem geográfica de alguém (sobretudo, porque a questão da “pureza do sangue” é, hoje, irrelevante): “ser português dos quatro costados”, “ser beirão / portuense / lisboeta / transmontano / minhoto ou açoriano dos quatro costados”, etc…

Esta expressão – como exemplifica o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa – pode ainda ser utilizada, de modo informal, para qualificar algo “refinado, nobre” ou para o caracterizar como “autêntico, genuíno”.

Atenda-se, igualmente, ao Dicionário de Expressões Populares Portuguesas, de Guilherme Augusto Simões (Publicações Dom Quixote, Lisboa), no qual se reitera que a expressão “de quatro costados” tem a ver com referências “à genuinidade de uma pessoa, verdadeiramente natural de ascendência ou de localidade”.

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23/03/2023

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Vítor Duque Cunha

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