Sobre o medo e a posse de Lula da Silva
A poucos dias da posse do novo presidente da República, a tática dos radicais de direita é espalhar o medo. Anunciam-se atos massivos, ataques, bombas, tudo o que há. O desarme de um explosivo próximo ao aeroporto de Brasília e a apreensão de armas de grosso calibre e de largo alcance, na posse de um empresário do Pará, colocaram o Brasil em alerta geral.
Ao que parece, os descabeçados que ocupam a frente dos quartéis, desde o resultado das eleições, não são só velhinhos ociosos ou senhoras com almas em escombros. Entre eles circulam também figuras nefastas que tramam coisas mais pesadas do que, apenas, rezar e clamar ao exército uma intervenção. É importante lembrar que esses acampamentos espalhados por todo o país não se autossustentam. Eles são financiados por empresários, por políticos e protegidos pelas autoridades dos quartéis. Além de, como é claro, serem incentivados diuturnamente pelos “tanques de pensamento” e por notícias falsas.
Nos grupos de WhatsApp, todos os dias chegam documentos e depoimentos de “generais” ou de “autoridades” dizendo que é preciso manter a mobilização nos quartéis, porque em 72 horas algo vai acontecer. Aí, em 72 horas algo acontece. Não é necessariamente a intervenção, mas é alguma coisa que logo se reveste de mistério e passa a ser colocada como um passo a mais na tomada do poder por Bolsonaro. E, assim, a turba segue na vibração, na ansiedade, na expectativa de que “agora vai”. Nem mesmo a notícia de que o chefe-mor Jair Bolsonaro está se bandeando para os Estados Unidos, nesta quarta-feira (ontem, dia 28), aplacou o otimismo. O discurso que circula é de que ele precisa sair do país para que o golpe seja consolidado. “Ele tem que sair pra que ninguém diga que foi ele que deu o golpe”, dizem. Olha a ingenuidade. Segundo os “líderes” do movimento, o exército vai agir depois que Bolsonaro estiver em segurança.
A posse de Lula da Silva está sendo chamada de Dia D (do Inglês D-Day). “Muita coisa vai acontecer”, apregoam. E, segundo eles, o “nove-dedos”, que já está morto e sendo representado por um clone, será eliminado. Daí a preocupação com a segurança do presidente eleito. Parece que não está sendo possível contar com a polícia para investigar esse povo todo que circula livremente nos acampamentos em frente aos quartéis. Caso tivessem interesse, já teriam mapeado todo o mundo, levantando as suas fichas com detalhes. Mas, não. Esse povo segue bem tranquilo, bombardeando psicologicamente toda essa gente crédula que espera por uma intervenção militar. É verdadeiramente criminosa a ação desses grupos que alimentam os telefones pessoais dos apoiadores de Bolsonaro com mentiras sistemáticas e diárias. É como se eles fossem mantidos numa constante “montanha russa” de emoções e de promessas. Todo dia surge uma nova profecia que não se cumpre, mas não importa, porque já tem outra pronta.
Enquanto isso, o medo entre os apoiadores do presidente eleito vai se espalhando também. Há temor pela vida de Lula. Há temor sobre a possibilidade de um atentado massivo. Espalha-se a preocupação com toda a gente que está se mobilizando para ir até Brasília participar na festa da posse presidencial.
Esse será um momento decisivo. Ou Lula convoca os seus apoiadores a ocuparem Brasília em número recorde ou o discurso do medo sairá vencedor. É tempo de conclamar o povo para dar uma resposta à altura a toda essa agitação dos bolsonaristas.
Até agora, eles foram deixados de lado como um grupo de “doidos”. Só que os que os financiam não têm nada de doidos. São figuras bem conhecidas que querem ver o caos se formar, aprofundando ainda mais o processo de destruição tocado por Jair Bolsonaro. É claro que a polícia sabe muito bem quem são, apenas não age. Segue esperando para ver como a classe dominante vai atuar, afinal, é a ela que obedece. Por isso, também existe o medo de que estas forças de segurança que vão proteger Lula não sejam tão seguras.
O dia primeiro de janeiro (no domingo) poderá ser um momento importante para Lula mostrar aos seus adversários que realmente tem apoio popular. Mas, para isso, ele terá de convocar o povo. Fará? Até agora, não vimos isso. Se Lula se achicar, já começa perdendo.
29/12/2022